quarta-feira, agosto 16, 2006

Horizontes

Amanhece mais uma vez sobre a cidade e, mais uma vez, o céu enche com o cheiro de bolos acabados de fazer. O ar enche de um aroma adocicado e quente que abriria o apetite a qualquer um. Tiago acorda para a sua triste realidade. Realidade esse que ele planeia mudar com a sua entrada na faculdade.
Senta-se na cama enquanto ouve os pais a discutirem como sempre e a irmã a correr de um lado para o outro. Há alturas em que pensa que preferiria ter sido adoptado. Hoje não. Hoje as coisas estão diferentes. Hoje é o dia em que vai finalmente sair desta casa e viver sozinho. E sorri. Levanta-se e vê as horas no telemóvel. São dez da manhã. Não há mensagens. Nunca há. Tiago nem sabe porque insiste em ver se tem mensagens no telemóvel se nunca as tem. Lá volta e meia aparece uma ou outra, mas todas do seu operador a dar aquelas notícias chatas de promoções a aproveitar. Fora isso, só eventuais mensagens da sua melhor amiga, nada mais.
Levanta-se e vai tomar um duche e tenta esquecer as discussões aparvalhadas dos pais. Hoje será o último dia em que os terá de aturar semanas a fio. E sorri. O duche está óptimo e Tiago depressa relaxa. Já tem as malas feitas e os seus objectos pessoais arrumados, prontos para a viagem. Sai do banho e vai-se vestir. Não tarda nada é almoço...

Enquanto se veste a Marta entra no quarto e fecha a porta.
- Ouve mano, - diz enquanto se senta. - tens a certeza que não queres contar à mãe?
- Não há nada para contar. - Continua a vestir-se.
- Mas devias de contar-lhe. Ela tem o direito de saber que tu...
- Ela tem o direito de saber quando eu lhe decidir contar. E nem te atrevas a dizer nada.
- Pronto! Já não está quem falou... Mal humorado!
- Ouve Marta, não quero falar mais nisso. Estou muito ocupado hoje. E depois logo vejo isso...
- Tu é que sabes... - e levantando-se. - Ai... o meu maninho vai para a faculdade. 'Tás crescidito e bonitão. Ainda me arranjas lá um cunhado jeitoso... - e abraça Tiago.
- Marta...
- Ah! Ya! E que tenha um irmão bem bom... ou um primo. Ou um amigo assim todo...
- Marta! Podemos ir andando? Quanto mais depressa sair daqui, melhor.
- Vamos. Vamos beber um café que eu estou a precisar do cigarro.

Saem os dois do quarto. Os pais ainda discutem em frente à televisão. Tiago arruma as suas coisas no carro de Marta e, depois de tudo aconchegado, partem. Tiago sente um alívio e uma paz que nunca sentiu antes. Está finalmente livre para ser ele mesmo. Livre e com novos horizontes à espreita...

Jinhos
Arms

1 comentários:

Aequillibrium disse...

cool story...