Como o suposto, durante o funeral muitas lágrimas foram derramadas e muitos gemidos foram lançados. No meio de quase uma centena de pessoas, destacam-se os familiares e amigos mais chegados de Rafael. Em primeiro plano, consegue-se observar Nelson na companhia do senhor Osvaldo e da dona Antónia. Logo atrás encontravam-se Ana, Ricardo, Pedro, Tiago, Raquel e os demais amigos. Um pouco mais deslocados, os vizinhos e outros habitantes de Viseu, incluindo os pais de Nelson, que vieram prestar a última homenagem a Rafael.
No final, enquanto se preparava para ir embora, Nelson foi surpreendido por Tiago, que manifestou interesse em falar com ele.
- Disseram-me que eras o namorado do Rafael...
- Sim, era. – Respondeu Nelson ainda a libertar algumas lágrimas. – E tu és...?
- Desculpa, não me apresentei. Sou o Tiago. Conhecia o Rafael.
- Ah... – interrompeu Nelson meio desinteressado. – Chamo-me Nelson.
- Prazer. – Tiago calou-se por instantes. - Sei que não é boa altura para ter qualquer tipo de conversas, mas... – Tiago engasga-se. – Mas queria que soubesses que ele foi uma pessoa que marcou a minha vida, mesmo só tendo falado com ele durante uma tarde.
- Estou a ver... – Retorquiu Nelson – E posso saber em que medida é que ele foi muito importante para ti?
- Sabes, eu era daquele tipo de homossexual que não se assumia. Não olhava para rapazes porque tinha vergonha de ser assim. Sentia raiva e repugnação de mim mesmo... – Tiago fez uma pausa. – Como disse, só passei uma tarde com ele e com a Inês lá no Algarve. Não falámos muito sobre a homossexualidade, tirando um tópico ou outro, mas... – Tiago pensou no que haveria de dizer. – Mas a sua forma de estar na vida e o facto de parecer confortável com a sua sexualidade fez-me ver que nem tudo é mau. Fez-me ver que a homossexualidade não é doença, não é algo que se possa contrariar: é algo que existe e pronto, não é tão complicado como aparenta ser.
- Fico feliz por saber que alguém, para além de mim e dos seus pais, não se vai esquecer dele. – Disse Nelson à medida que esboçou um breve sorriso. – Olha, ... – interrompeu – Como disseste que te chamavas?
- Tiago... – Respondeu.
- Olha, Tiago... Lamento, mas por agora não consigo terminar esta conversa. Vais ficar por Viseu durante mais quanto tempo? Podias dar-me o teu contacto e daqui a dois ou três dias entro em contacto contigo. Assim, explicas-me melhor a forma como o Rafael te marcou... Pode ser?
- Claro, com certeza. Fico por cá, pelo menos, mais duas semanas. Depois vou-me embora, por causa das aulas...
Nelson e Tiago trocaram os contactos. Nelson pediu desculpa pela indisposição para conversas e prometeu um café poucos dias depois daquele dia. Despediram-se e foram-se embora.
terça-feira, abril 24, 2007
Um Encontro Esporádico
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 10:35 da tarde 5 comentários
terça-feira, fevereiro 20, 2007
Más notícias (parte 4)
Amanhece e Tiago acorda. Por causa do tio da Inês, o Pedro e o Tiago tiveram que dormir em quartos separados. Antes dele sair da cama Pedro entra.
- Sairam todos. Estamos sozinhos e vim dar-te os bons dias. – Sorri e mete-se debaixo dos lençóis. Abraça Tiago.
Tiago sente-se pouco à vontade.
- Mas, podem voltar a qualquer momento.
- Nem por isso. Foram todos ao mercado. Só devem chegar por volta das onze. Temos três horas só para nós. Além disso, a minha tia Eugénia deve estar a arranjar forma de manter o meu tio ocupado.
- E a Inês? – Pergunta Tiago.
- Não tenho a certeza, mas acho que ela foi falar com o namorado do Rafael. Talvez foi avisar que tu vais ao funeral. – Pedro chega-se mais perto de Tiago e coloca-se por cima dele, apoiando-se com os braços. – Agora. Como é que vamos ocupar estas três horas?
Pedro sorri e dá-lhe um beijo na boca.
Publicada por Arms à(s) 8:04 da tarde 4 comentários
Más notícias (parte 3)
Tiago repara que afinal Inês e a tia dela já estavam à sua espera. Saem do terminal, em direcção a elas. Inês sorri.
- Chegaste finalmente. – Depois repara no Pedro. – Ah, bom. Também vieste.
Pedro sorri. Pousa as malas e abraça Inês. Depois aproxima-se da tia e dá-lhe dois beijos.
- Olá tia!
Esta sorri-lhe.
- Tudo bem Pedro? – Pergunta. Depois dá-lhe uma palmada no peito. – Seu desnaturado! Não dás notícias. Tenho que saber notícias tuas das bocas dos outros.
A tia dele recua e olha-o de cima a baixo.
- Bolas rapaz! O que te têm dado de comer? Estás uma torre. Por este andar acabas por bater com a cabeça nos candeeiros de casa.
Depois aproxima-se de Tiago e dá-lhe dois beijos.
- Tudo bem contigo Tiago?
- Sim. – Responde timidamente.
- A Inês já me contou tudo. Eu sei que vocês os dois, bem, são íntimos. – Pisca-lhe o olho.
Tiago sorri timidamente.
- O Tiago vinha pelo caminho a pensar que iria causar impressão, tia. – Diz Pedro.
Ela ri-se.
- Ó rapaz. Estou velha demais para me preocupar com essas coisas. Confesso que não percebo muito do assunto. Mas não vou deixar de falar convosco por causa disso. Mas deixemos de conversas. Ainda nos congelamos por aqui. Vamos andando.
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Más notícias (parte 2)
Chegando ao fim da viagem, no terminal de autocarros, Pedro acorda Tiago e saem os dois. Está mais frio e vento, e Pedro tira o seu casaco e dá-o a Tiago, que acaba por vesti-lo. Sentam-se no banco enquanto esperam que Inês chegue.
- Então... Este tal de Rafael era um grande amigo teu, certo?
- Por acaso era um grande amigo da Inês. Só o conheci num verão e nunca mais falámos.
- Então, porque vais ao funeral dele?
- Porque ele foi a pessoa que fez mais por mim ao longo destes anos. Porque ele ajudou-me a assumir para mim mesmo, mesmo que essa não tenha sido a intenção dele. Porque foi mais amigo que muitos dos meus amigos da altura.
- Engraçado. – Diz Pedro coçando a cabeça.
- O que é engraçado?
- A forma como a interacção das pessoas nos vai moldando. Com tantos amigos que tiveste na altura e a pessoa que mais te ajudou foi um estranho completo. E, por causa disso, tornou-se numa das pessoas mais importantes da tua vida. E tu nem sabes nada da vida dele...
- É verdade. O Rafael foi como um anjo da guarda. Segurou-me quando eu estava prestes a cair. Todos os meus amigos já tinham tentado de tudo para me ajudar, acredita. A Inês então... Só faltava ela dar a vida por mim. – Tiago faz uma pausa e sorri. – Quem diria que tudo o que eu precisava era conhecer alguém? Uma coisa tão simples quanto isso...
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Más notícias (parte 1)
Faz frio e vento. O que é bastante estranho para um Verão. Tiago senta-se no banco da estação do Barreiro, com uma mala de viagem enquanto espera pela chegada do comboio com destino a Lisboa. Sente um arrepio na espinha e depressa se arrepende de não ter trazido um casaco mais quente. O tempo parece já anunciar a chegada do Outono com o vento a uivar por entre as colunas com um hálito a mentol. Chovem-lhe memórias de tudo e mais alguma coisa enquanto o Sol se esconde por detrás dos prédios no horizonte. Lembra-se de quando foi passar uns dias com a Inês no Algarve e conheceu o Rafael pela primeira vez. Ri-se para si mesmo porque lembra-se das figuras parvas que fez quando conheceu Rafael.
Tiago, trapalhão como já era de costume, tropeçava nas palavras e trocava-as de ordem devido ao nervosismo. Inês havia-lhe contado que Rafael era homossexual e Tiago, com medo de que fosse topado, fazia de tudo para disfarçar. Tudo sem sucesso porque a Inês, na sua ingenuidade, já tinha contado ao Rafael que Tiago era gay. E então, houve ali um momento estranho porque Tiago não sabia o que havia de fazer. Nunca tinha conhecido um homossexual na sua vida – bem, pelo menos não pessoalmente. Mas correu tudo bem... Rafael fora extremamente simpático para ele.
Tiago encolhe-se quando se levanta uma rajada de vento.
- Devia de ter ido com a Inês. – Pensa.
Abre a mala e saca do leitor de Mp3 para ver se se distrai um bocado do frio. Falta ainda meia hora para o comboio chegar. O movimento na estação é quase nulo, o que aumenta ainda a insegurança de Tiago. Começa a pensar no que o poderá esperar à chegada. Como irá a tia da Inês o receber? A Inês já lhe havia contado de certeza, para evitar que os boatos de que Tiago namorava com ela se espalhassem mais. Pôs a música a tocar para esquecer as suas inseguranças. Aos poucos vai-se distraindo. Saca de um cigarro quando sente uma mão a tocar-lhe o ombro. Vira-se e tira os auscultadores dos ouvidos.
- Eu já te disse que fumar faz mal. Devias de deixar. – Diz Pedro sorrindo.
Tiago faz um esforço para não saltar aos braços de Pedro, mas Pedro já se havia antecipado e dá-lhe um abraço.
- O que fazes aqui? – Pergunta Tiago.
- Achas que eu iria te deixar sozinho num momento destes? – Responde-lhe Pedro enquanto se senta no banco.
Tiago sorri e senta-se.
- Obrigado por teres vindo.
E ficam à espera que o comboio chegue.
O comboio chega finalmente e os dois entram. Assim que desembarcam em Lisboa, entram de imediato para o autocarro que os levará até Viseu. A viagem apresenta-se ainda longa, vai levar mais de duas horas para chegarem ao seu destino. Chegam só à meia-noite. Por isso, Tiago aproveita para descansar, encostando-se a Pedro. Adormece.
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terça-feira, outubro 17, 2006
No Hospital [Parte 3]
Alguns minutos após à saída de Nelson do quarto, ouve-se nos corredores um grito de desespero e angústia...
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!
Ana, Ricardo e Nelson foram interrompidos pelo grito. Os seus corpos congelaram, excepto a cabeça, que serviu para trocarem alguns olhares assustados.
- Pareceu-me ser do quart... – Ana nem teve tempo de terminar a frase.
Fora interrompida por Nelson, que saltou da cadeira e correu em direcção do quarto do seu amado. Ela e Ricardo tentaram acompanhar Nelson, mas sem sucesso.
Ao alcançar a porta do quarto, Nelson pára por um segundo e respira fundo. Por fim, entra no quarto, seguido dos seus amigos e de duas enfermeiras. Os cinco indivíduos encontraram o senhor Osvaldo a soluçar virado para a janela e com a cabeça encostada no vidro. Por sua vez, a dona Antónia estava debruçada sobre o corpo do filho, desfeita em lágrimas...
O que menos se previa acontecer naquela fase da recuperação acabara de acontecer: Rafael faleceu.
Nobody's Bitcho
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 12:15 da manhã 8 comentários
sábado, outubro 14, 2006
No Hospital [Parte 2]
- Que...?! – Perguntaram, em uníssono, Nelson, Ana e Ricardo.
Ao mesmo tempo que colocaram a questão, Ana - que se encontrava do lado esquerdo de Nelson – agarrou-lhe na mão, enquanto que Ricardo – situado à sua direita – colocou a mão no ombro do amigo.
- Que... – suspirou o médico. – Que poderã ser fatais. A equipa médica que o assistiu fez o melhor que pôde para evitar qualquer complicação ou infecção. Mas o futuro é incerto... Após o período das quarenta e oito horas mais críticas, eventualmente irão poder respirar de alívio. Nós faremos o nosso melhor.
Dito isto, Nelson agarrou-se aos amigos e chorou compulsivamente.
Durante a semana seguinte, Rafael dá sinais de recuperação, apesar de permanecer em estado de coma.
Ao fim do nono dia de internamento, Rafael finalmente acorda. Nelson e os pais de Rafael nem se aperceberam do facto.
- Nelson...? – Disse Rafael num tom esgotado ao mesmo tempo que se tentava libertar da máscara de oxigénio.
Nelson e os pais de Rafael olham-se com cara de espanto e de um certo alívio pelo sucedido. Nelson aproximou-se de imediato, enquanto a dona Antónia, a mãe de Rafael, tentava alcançar o filho, sendo impedida pelo marido.
- Espera. Tem calma. Deixa-os falar primeiro. – murmurou o senhor Osvaldo.
- Mas é o meu filho! – respondeu, resignada, a dona Antónia.
- Nelson... – repetiu Rafael.
- Sim, meu anjo. Sou eu.
- Perdoa-me...
- Não penses mais nisso. – Disse Nelson soltando uma lágrima. – Agora descansa. Põe-te bom depressa... Sim? – interrompeu com um suspiro. – Os teus pais estão aqui; a Ana e o Ricardo estão lá fora a torcer por ti. Estamos todos a contar contigo, amor.
- Amo-te...
- E eu a ti... desculpa ter sido parvo...
- Sim... – respondeu Rafael com algumas dificuldades respiratórias.
Nelson voltou a colocar a máscara de oxigénio na cara do namorado.
- Vá... não fales. Descansa. – Disse, despedindo-se com um beijo na testa. – Vou lá fora dar a novidades a eles, sim? Amo-te.
- Sei que sabem que não é melhor momento para pedir explicações... só peço para não o fazerem falar muito, qualquer que seja o assunto. Vou deixá-los a sós. Devem querer dizer-lhe alguma coisa. Se ele voltar a chamar por mim, estou lá fora.
- Claro. Com certeza. – acedeu de imediato o senhor Osvaldo. – Obrigado.
Ficaram a olhar-se durante alguns segundos, enquanto Nelson procurava pelas melhores palavras.
- De nada. – Acabou por responder.
E saíu.
Hugz & Kisses,
Nobody's Bitcho
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 7:52 da tarde 1 comentários
sexta-feira, outubro 13, 2006
Encontros Imprevistos (parte 7)
Tiago decide pelo passeio. A noite está agradável e, para além disso, a vontade de ir para casa é nula. Decidem então passear pela marginal. A caminho da marginal eles passam por uma rua mais escura e deserta e reparam num casal de lésbicas de mãos dadas à sua frente. Sorriem os dois. Pedro estende então a sua mão.
- Queres seguir o exemplo delas?
Tiago hesita. Mas, passado uns segundos, dá a mão a Pedro e descem a rua de mãos dadas. Tiago solta um suspiro tremido, libertando todo o nervosismo que a proposta lhe incutiu.
- Não estavas à espera de poder me dar a mão na rua? – pergunta Pedro ao reparar.
- Nunca.
E nada mais dizem um ao outro. Descem a rua apenas, apreciando o silêncio e o luar. E, quando chegam ao fundo da rua e começam a voltar às ruas iluminadas, soltam as mãos. Com impulso, uma reacção quase natural. Como se estivessem a fazer algo de mal. Tiago entristece-se de repente.
- O que foi Tiago? – pergunta Pedro.
- Detesto este mundo! Detesto ter que esconder-me como se eu fosse um criminoso apenas porque amo de forma diferente. Detesto ter que andar por aí a mentir e inventar realidades apenas para não ser marginalizado. É injusto. Eu tenho tanto direito a ser feliz como outra pessoa qualquer.
Pedro baixa a cabeça.
- Sim. Percebo-te! Mas vamos esquecer o mundo hoje. Vamos esquecer que existem pessoas, cidades, continentes... Hoje sejamos apenas eu, tu, a Lua e o mar. Nada mais importa. O Sol depois irá devolver-nos à realidade que tanto adoramos!
Tiago ri.
- Que sarcasmo! Sim... Hoje não quero pensar em mais nada!
Desviam o seu passeio da marginal quando chegam ao parque. Embora não seja lá muito aconselhável entrar no parque à noite, há zonas iluminadas que são relativamente seguras. Entram na alameda do parque e sentam-se num banco a meio caminho.
- Daqui vêem-se bem as estrelas. – diz Tiago.
Pedro olha para cima.
- Verdade. Nunca tinha reparado! Até se vê a Via Láctea! – sorri.
- Que foi? – pergunta Tiago.
- Devem ter já passado uns... sei lá... oito ou nove anos que não me sento a ver estrelas. Já me tinha esquecido de como elas são simplesmente belas. Tão simples. Pequenos pontinhos no céu como berlindes num tapete azul-escuro. Como se Deus fosse uma criança e os tivesse esquecido. - Tiago ri despertando a atenção de Pedro. – Estás a gozar!?
- Não... Nada disso! Eu é que nunca tinha ouvido uma descrição dessas na vida. Achei piada.
Um silêncio. Pedro e Tiago olham um para o outro. Tiago sorri com um sorriso infantil e, ao mesmo tempo, extremamente sexy. Pedro mete-lhe a mão na bochecha e eles beijam-se. Tiago não sabe o que fazer de início. Apenas fecha os olhos e entrega-se.
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quarta-feira, outubro 11, 2006
Encontros Imprevistos (parte 6)
Pedro solta uma pequena gargalhada que faz com que Tiago se sinta incrivelmente inexperiente.
- Não me desiludiste em nada! Não estava à espera... Eu, com a tua idade já namorava e já não era virgem. Mas, isso não me incomoda em nada. – Pedro solta um sorriso matreiro. – Além disso, posso-te ensinar o que quiseres.
Tiago cora até às orelhas.
- É que... Não. Não quero que te sintas mal... Isto é, por eu não ter experiência.
Pedro sorri.
- E se nós levarmos isto a um passo de cada vez? O que achas?
Tiago sorri timidamente e solta um tremido sim. Terminam o jantar e saem do restaurante. Apesar da hora decidem ir ao cinema. Chegam lá mesmo em cima da hora e entram. Tiveram sorte de terem arranjado lugares a meio da sala, um ao lado do outro. O filme começa e a sala escurece. Por entre a penumbra e os risos das pessoas, Pedro encosta a perna à perna de Tiago algumas vezes. Embora estejam os dois envolvidos com o filme, estes pequenos gestos desperta-lhes a atenção. Tiago não consegue deixar de pensar que ele, no fundo, tem sorte por ser como é. Os heterossexuais não dão valor a estes gestos fortuitos e cheios de romantismo. Dão tanto valor a palavras, coisas efémeras e quase sem sentimentos, que se esquecem do poder e da excitação que é um simples toque. E sorri. Sorri simplesmente porque as palavras perdem todos os seus sentidos. No fundo, o que realmente conta são os pequenos gestos. Estes pequenos toques eternos, esquecidos no momento. E, envolvido em leves toques e o filme, Tiago encontra uma paz que pensava não existir.
O filme termina finalmente e Tiago não consegue parar de sorrir de felicidade.
- Por que é que estás a sorrir assim tanto? – Pergunta Pedro curioso.
- Por nada e por tudo.
Saem do edifício e caminham em direcção ao carro.
- Queres ir já para casa ou preferes um pequeno passeio? – Pergunta Pedro sorrindo para Tiago.
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terça-feira, outubro 10, 2006
Encontros Imprevistos (parte 5)
O jantar corre sem problemas, apesar de Tiago ter deixado cair o garfo e ter derramado a água sobre a mesa. Entre conversas houve momentos em que as pernas de Pedro se se encostaram aos de Tiago, momentos estes que ele nunca pensava sentir. Os arrepios a subirem-lhe pelas pernas e pela sua nuca... Tiago só consegue sorrir. Um sorriso pateticamente sensual e tímido, se é que tal sorriso possa existir. Pedro, no entanto, não consegue deixar de pensar que, por mais que diga que isso não lhe incomoda, Tiago é sete anos mais novo. Uma diferença enorme apesar de Tiago ser já bastante maturo. As conversas param quando o empregado lhes tráz as subremesas. Resta-lhes falar de si mesmos.
- Tiago. Estive a pensar... Tu és assumido?
Tiago trava a colher cheia de semi-frio de café em frente à boca e olha para Pedro. Atrapalhado, Pedro acrescenta rapidamente.
- Desculpa se fui frontal demais. Se não quiseres responder...
- Não. Não é isso. – diz pousando a colher. – Apenas fiquei surpreendido por teres feito a pergunta assim, de repente. Não sou assumido... Isto é, só a minha irmã e alguns amigos é que sabem.
Pedro sorri.
- Já tiveste algum namorado antes? – pergunta Pedro.
Tiago não sabe o que responder. Cede por fim.
- Não. Nunca. Nem nunca beijei ninguém.
- Nem uma rapariga? - pergunta, surpreendido enquanto Tiago leva o último pedaço de pudim à boca.
- Não. Eu sempre soube quem sou e não me agrada a ideia de ter que fingir para manter uma imagem. - pousa a colher e continua, num tom mais baixo. - Nem iria gostar de namorar uma rapariga, sabendo que sou homossexual, apenas para a magoar depois.
Pedro fica calado a olhar para Tiago. Tiago baixa a cabeça timidamente.
- Desiludi-te...
Publicada por Arms à(s) 8:30 da tarde 1 comentários
domingo, outubro 08, 2006
No hospital. [Parte 1]
Após duas longas horas a observar e tratar dos ferimentos de Rafael, o médico-adjunto envia o seu assistente à sala de espera onde, impacientemente, aguardavam Nelson e o seu grande amigo Ricardo.
- Chamam-se os familiares do senhor Rafael de Jesus Almeida e Melo à recepção. – soou uma voz no altifalante.
Rafael e Ricardo levantaram-se num ápice, ao mesmo tempo que Ana, uma grande amiga de ambos, chegava ao serviço de urgências.
- Que aconteceu? – Questionou preocupada.
- Depois explico-te. Chamaram-nos agora. Vamos. – Respondeu Ricardo com alguma pressa.
- Os senhores é que são os familiares do jovem Rafael Melo? – Inquiriu o médico-assistente com uma certa arrogância e prepotência.
- Não. Eles são amigos e eu... – Nelson fez uma pausa para respirar e para pensar se havia ou não de dizer o que realmente era a Rafael. – Bem, eu sou o namorado. – Disse por fim. – O que se passa com o “Rafa?
Com alguma agressividade no seu tom de voz, o médico-assistente realçou o facto de ter chamado os familiares do acidentado e não os amigos.
- Não consegui entrar em contacto com eles! – gritou Nelson, com o desespero a pesar na voz. – Como é que ele está, doutor?
O médico suspira de impaciência:
- Bom... Como pode imaginar, o seu... – interrompeu a frase para decidir se havia de dizer “namorado” ou “amigo”. - ... o seu amigo não está nada bem. Perdeu bastante sangue e partiu algumas costelas, uma das quais perfurou-lhe o pulmão direito. Partiu também a bacia e o antebraço esquerdo.
Neste momento, só se via horror na cara de Nelson, Ricardo e Ana. Ainda assim, o médico-assistente continuou a relatar o estado de Rafael...
- Não sei se foram informados, mas quando o sinistrado chegou ao serviço de urgências, encontrava-se em coma. Ainda se encontra em coma, porém, estável. De qualquer das formas, será internado na Unidade de Cuidados Intensivos, visto que as próximas quarenta e oito horas são decisivas. – Entretanto, o médico consulta a ficha clínica de Rafael. – O Rafael será acompanhado por um dos melhores médicos deste hospital, contudo poderão surgir complicações que... – e interrompeu o seu discurso.
Hugz & Kisses,
Nobody's Bitcho
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 2:34 da manhã 4 comentários
quarta-feira, outubro 04, 2006
Encontros imprevistos (parte 4)
Ecos. Pedro e Inês ficam a olhar um para o outro e Tiago para os dois. Diz ele de repente.
- Espera. Mas, vocês os dois já se conhecem?
Pedro agarra em Inês e mete-lhe o braço atrás das costas. Ficam lado a lado. Parecem quase ridículos um ao lado do outro: ele muito alto em relação a ela, que lhe dá pelo peito.
- Somos primos! – diz Pedro muito orgulhoso.
Tiago solta uma gargalhada. Pedro detém o sorriso e fica a olhar para Tiago com aquela cara típica de como se ele tivesse dito a maior barbaridade do mundo. Inês sorri muito e esclarece tudo.
- É que, estávamos a falar de ti agora mesmo. E o Tiago não sabia que és meu primo, e eu que tens um encontro com ele. – sorri. – Olha! Fica tudo em família!
Riem-se todos.
- O mundo é mesmo muito pequeno... – diz Inês por fim. – Mas, vão lá. Não quero que se atrasem por minha causa.
E vira-se para Pedro.
- E tu. Tu trata o Tiago com respeito, senão conversamos em casa.
Pedro sorri.
- Sim mamã! – Inês dá-lhe um estalo no peito. – Ei! Pronto! Eu porto-me bem.
Eles abraçam-se. Inês depois abraça Tiago e diz-lhe baixinho, no ouvido:
- Diverte-te. Tu mereces! Adoro-te, amigo!
Inês paga a sua conta e saem todos juntos. Trocam umas palavras e partem em diferentes direcções. Tiago fica muito nervoso de repente.
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terça-feira, outubro 03, 2006
Encontros imprevistos (parte 3)
"Tiago. Peço imensa desculpa. Estou atrasado. Vou tentar despachar-me. Dá-me mais meia hora. Desculpa mais uma vez."
- Bem. Parece que ele vai-se atrasar. – diz Tiago, já completamente descansado, enquanto guarda o telemóvel.
- Homens! São sempre a mesma coisa... Ainda falam das mulheres. – diz Inês e debruça-se sobre a mesa. – Então. E o que é que o teu menino faz? Que idade tem ele?
- Ele tem vinte e seis anos...
- Bolas. Mas ele é quase dez anos mais velho que tu! – diz endireitando-se. Calam-se os dois quando o empregado entrega o café de Inês. – Obrigada! (sorri ao empregado) E gostas dele?
- Sim... Quer dizer. Gosto dele, mas é muito cedo para saber seja o que for. Conheci-o há pouco tempo.
- Sim, claro! E o que é que ele faz?
- Ele é dono de um bar e tem o curso de Comunicação.
- Hum... Sim senhor. Um gerente! – ela sorri. – E... É um bar gay?
- Não. É um bar completamente banal, apesar de gay-friendly!
Inês bebe um golo do café.
- Muito bem. Estou a gostar de ouvir. Com que então hoje vocês vão ter o primeiro encontro oficial, não é?
- Sim.
A porta da pastelaria abre-se e Tiago começa a sorrir muito. Pedro acaba de chegar. Chega-se ao pé de Tiago e pede desculpas. De repente Inês levanta-se.
- Pedro!?
Pedro repara então em Inês. Sorri.
- Inês. Tu conheces o Tiago?
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Encontros imprevistos (parte 2)
Inês sorri muito.
- Já não há quem te põe os olhos em cima, rapaz. Já não te vejo desde as matrículas. Que tens feito? E, já agora, estás todo bonito e cheiroso porquê? Ai... Não me digas! Tens um encontro com uma rapariga toda jeitosa hoje?
Tiago cora muito de repente. Não sabe o que fazer, o que dizer. Se deve dizer algo ou se não deve contar nada. O Pedro deve estar quase a chegar e as coisas podem-se complicar. Mas, ao mesmo tempo, a Inês é a sua melhor amiga. Talvez ela aceite bem...
- Então!? Não falas? Que tens? – pergunta ela quando vê que ele fica muito branco de repente. - Estás todo gelado... Disse alguma coisa que não devia?
- Inês. – Tiago pega nos braços dela e faz com que ela se sente na cadeira à sua frente. – Eu... Bolas! Nem sei como te contar isto.
- Mas... Aconteceu alguma coisa? – Inês começa a ficar muito nervosa. E segura-lhe nas mãos. – Não queres ser visto com a rapariga, é isso?
- Não. Não é isso... É que... Tenho um encontro hoje, sim. Mas... – Tiago aperta muito as mãos de Inês. As suas mãos tremem tanto, deixando Inês ainda mais nervosa. – É que... não é uma rapariga!
Inês fica calada a olhar para Tiago. Ela larga-lhe as mãos e esfrega as suas mãos, doridas. Tiago baixa a cabeça, como se tivesse dito a coisa mais vergonhosa do mundo. O silêncio é quase ensurdecedor. Um silêncio quase físico, que quase dá para cortar com uma faca. Inês sorri de início. Mas depressa vai soltando uns pequenos risos aos soluços e, por fim, solta uma gargalhada sonante. Tiago levanta a cabeça, admirado pela reacção dela. Fica ainda mais nervoso. Por fim, Inês acalma-se e diz:
- Era isso que te estava a deixar todo nervoso comigo? – depois sorri com aquele sorriso maternal que só ela sabe fazer. Um sorriso que é capaz de derreter até os corações mais gélidos em fracções de segundos. – Tiago. Eu já suspeitava. Mas, como nunca falaste do assunto... Eu não queria forçar-te a contar-me. Estava à espera que me contasses.
Tiago fica muito aliviado de repente e solta um sorriso tímido.
- Tu és o meu melhor amigo e eu adoro-te. Adoro-te tal e qual como és e quero que te sintas sempre à vontade comigo. Além disso, eu já tive umas brincadeiras com uma amiga na minha adolescência. – Tiago não sabia de nada e fica surpreendido. - Isso é tudo muito natural para mim. E mais. O meu primo Pedro também é gay e dou-me bem com ele.
Tiago sorri muito.
- Nem imaginas como fico aliviado por saber isso. Pensava mesmo que ias deixar de falar comigo.
- Tu és um tontinho. – ela sorri mais uma vez. – E então? Como é que ele se chama?
- Chama-se Pedro. Deve estar quase a chegar.
- Que giro. Como o meu primo... – sorri e passa-lhe a mão pela cara de Tiago. – Estás apaixonado. Fico mesmo muito feliz por ti. Queres que te faça companhia até ele chegar?
- Adorava.
Tiago sorri. Inês levanta-se e vai ao balcão pedir um café. Sentam-se os dois, na conversa, à espera de Pedro.
Toca o telemóvel de Tiago. Uma mensagem.
Publicada por Arms à(s) 12:59 da tarde 0 comentários
Encontros imprevistos
- Bem... Alguém vai ter uma noite excelente hoje! – brinca Carlos ao ver Tiago a preparar-se para sair. – Já sei que tens um jantar hoje.
Tiago cora enquanto veste o casaco.
- Vais ter com ele? Ou vamos ter a felicidade de o conhecer? – pergunta Carlos.
- Vou esperar por ele na pastelaria do Sr. Alberto. Vem-me buscar daqui a meia hora.
- Ah! Muito bem. Mas tem cuidado. Ele é mais velho e muito provavelmente mais experiente. Não quero que fiques magoado ou que ele te force a algo que não queiras. – abraça Tiago. – Mas, vai lá. A Rita está à minha espera. Hoje estou de serviço...
Riem-se os dois. Despedem-se e, minutos depois, Tiago entra na pastelaria do Sr. Alberto. Este cumprimenta-o, trocam umas palavras e Tiago pede um sumo de laranja.
(Quinze minutos depois...)
A ansiedade instala-se. Com isto começam os pequenos movimentos dessincronizados da perna direita de Tiago. Ajeita-se na cadeira vezes sem conta enquanto olha para fora da janela sempre que um carro azul marinho passa. Tiago começa a roer as unhas porque nada mais há a fazer senão aguardar impacientemente pela chegada dele. Ainda é cedo. Faltam ainda uns dez ou doze minutos. A casa está quase ao abandono. Estão apenas algumas pessoas sarapintadas pelas mesas. Falam muito, riem e há crianças a berrarem, mas Tiago nem lhes liga. Está tão absorvido pela expectativa da chegada de Pedro que nem repara que existe vida à sua volta... nem que um vulto estranhamente familiar se aproxima dele.
- Bem... Olá Tiago! Vejo que hoje vais ter uma noite fantástica.
Tiago vira-se. É uma rapariga. Não a reconhece de imediato... ainda está distante. Mas, quando acorda, sorri muito e levanta-se, quase que tropeçando na mesa.
- Inês! – dá-lhe um abraço.
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Quinze dias depois... [Parte 3]
O Agente Idelfonso cumpriu com o que disse e levou Nelson para perto do carro. Entretanto, Nelson deixa soltar um “ajudem-no a salvar-se”, dito com muito desespero e sentimento de culpa.
Após alguns minutos, chega a ambulância. Atrás da ambulância vinha Ricardo. Ricardo, o melhor amigo de Nelson, fez uma travagem brusca uns metros à frente. Fez marcha atrás e foi ter com Nelson.
- Nelson?! – Gritou Ricardo, sendo barrado por dois agentes.
- Deixem-no passar, por favor. É meu amigo, está tudo bem. – pediu, espantado por ver o amigo ali.
- Que aconteceu? Estava a ir para Leiria, ia visitar a Ana... mas vi-te aqui e fiquei preocupado. Estás bem?
- O Rafael... – disse Nelson, explodindo em lágrimas.
- Tem calma, mano. Vai correr tudo bem. – retorquiu Ricardo, enquanto fazia um aceno com a cabeça ao agente Idelfonso, como que a perguntar o que se passa.
Idelfonso, uma vez mais explicou que Rafael havia-se despitado com o carro, que se encontrava inconsciente e gravemente ferido e que ainda assim os bombeiros estavam a fazer os possíveis para não amputarem nenhum membro.
Por fim, Rafael é solto do automóvel e enfiado na ambulância, que seguiu para o hospital de Coimbra.
Ricardo aborda Idelfonso.
- Será que um dos seus homens pode levar o carro do meu amigo para a esquadra, enquanto vou com ele para Coimbra? Amanhã passo por lá para o ir buscar.
- Sim, claro. Sem problema nenhum. A propósito, dê-lhe bastanta força. O caso do rapaz que ia a conduzir não é nada fácil... estive a falar com os paramédicos e eles não estão muitos esperançosos que se safe.
Ricardo engoliu em seco.
- Darei. Muito obrigado pela prestatibilidade.
- Ora essa! – Disse Idelfonso, à medida em que ia ficando corado. – só cumpri o meu dever.
Despediram-se.
Hugz & Kisses,
Nobody's Bitcho
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sábado, setembro 30, 2006
Quinze dias depois... [Parte 2]
Nelson não conseguiu perceber o que havia acontecido no outro lado da linha. Preocupado, tentou ligar de volta. Dava sinal de chamada, mas ninguém atendia. Segundos depois, a chamada era encaminhada para o voice mail. Tentou mais uma e outra vez e nada. Decidiu estacionar num sítio apropriado e voltar a tentar contactar Rafael. Assim o fez.
- Sim? Rafael?
- Desculpe, mas não é o Rafael que está a falar.
- Desculpe? Quem fala?
- O dono deste telemóvel despistou-se com o carro e encontra-se gravemente ferido. Desculpe dizer isto assim, mas...
- Onde é que ele está?
- Quilómetro 27, do IP3, em direcção a Coimbra.
Ouviu-se o saltar de um gemido abafado, ao mesmo tempo que se soltavam algumas lágrimas dos olhos de Nelson.
- Lamento ter-lhe dado a notícia desta forma...
- Não. Deixe. Que garantias tenho de que isto é verdade?
- Agente Rui Idelfonso, Brigada de Trânsito da GNR.
Naquele preciso instante, era anunciado na rádio um acidente, considerado muito grave, no quilómetro 27 do IP3 e o locutor deixa algumas dicas para os restantes condutores escaparem à confusão do acidente. . Nelson entrou em pânico.
- Vou já para aí!
Dito isto, fez uma arrancada barulhenta e dirigiu-se para o local indicado pelo Agente Idelfonso a “prego a fundo”.
O relógio marcava precisamente 12 minutos e 46 segundos após o telefonema ter sido desligado, quando Nelson chegou ao local do acidente. Ao ver que os bombeiros estavam a desencarcerar Rafael do carro, Nelson tenta aproximar-se do veículo acidentado, mas é impedido por um agente. Idelfonso, como era conhecido pelo seu pessoal, abordou Nelson e afastou-o ligeiramente de todo aquele aparato.
- Como é que ele está? – perguntou Nelson, desperado.
- Inconsciente. Os bombeiros estão a tentar de tudo para não terem que amputar nenhum membro. – respondeu Idelfonso em tom calmo. – Eles são óptimos no que fazem. Mantenha-se calmo. Vai ver que corre tudo bem.
- Quero estar ao pé dele!
- Deixe os bombeiros trabalhar. Se estiver lá, só vai atrapalhar. Tenha calma. Vai correr tudo bem. – fez-se silêncio. – Posso perguntar-lhe o que era ao jovem que está dentro do carro?
Nelson olhou para Idelfonso, desfeito em lágrimas. Hesitou se havia de dizer a verdade ou se diria que era apenas o melhor amigo.
- Sou o namorado dele.
- Pronto. Tudo bem. Vou levá-lo o mais próximo possível do carro, mas tem de me prometer que fica sempre ao pé de mim.
- Prometo.
Hugz & Kisses,
Nobody's Bitch0
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segunda-feira, setembro 25, 2006
Quinze dias depois [Parte 1]
Enquanto Rafael esteve no Algarve, pouco ou nada falara com Nelson. Era certo que a sua relação havia sido testada e, neste momento, estava muito frágil.
Os dois jovens encontraram-se assim que Rafael chegou a Viseu. À hora combinada, Nelson ja se encontrava na falésia onde tudo havia começado. Rafael chegou dois minutos depois.
Apesar do desconforto que se fazia sentir pelo silêncio, os olhos de ambos começaram a brilhar. Encostaram-se a um dos carros e começaram a falar. Os temas de conversa, estes, eram muito triviais: o relato de um ou outro episódio que havia sucedido quer no Algarve, quer em Viseu, nada de mais. A certa altura fez-se silêncio. Saturado de ouvir o vento soprar e de ouvir o locutor de rádio a anunciar as notícias do dia, Nelson quebrou o silêncio:
- Porque não me dizias nada enquanto estiveste lá em baixo?
Rafael olhou para Nelson, com os olhos prestes a entrar numa erupção de lágrimas:
- Porque...
- Aconteceu? – Interrompeu-o Nelson
- Sim... – disse Rafael, começando a chorar .
Não conseguindo controlar as suas emoções, Nelson enfiou-se no seu carro e saíu dali com uma arrancada brusca. Preocupado, Rafael fez o mesmo, na tentativa de conseguir acompanhar Nelson, mas sem sucesso. Enquanto percorria o trajecto para a casa de Nelson, Rafael tentava alcançá-lo por telemóvel.
Rafael começa ficar desesperado sem saber o paradeiro do namorado. As tentativas sem sucesso de o contactar por telemóvel deixam-no cada vez mais frustrado, mas mesmo assim não desiste e continua a tentar. Ao fim de algumas horas e inúmeras vezes a tentar contactar Nelson, Rafael lá conseguiu...
- Sim? Nelson? Mas onde rai...
Ouviu-se um grande estrondo.
- Rafael? Rafael?!
Hugz & Kisses,
Nobody's Bitcho
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 11:40 da tarde 3 comentários
sexta-feira, agosto 25, 2006
Fins de Verão (Parte 3)
Tiago vai contando a sua tarde. Como foi surpreendido e deixou escapar as folhas. Como teve uma longa conversa com Pedro e, ao fim da tarde, como ficaram em silêncio a apreciar o pôr-do-sol. Rita, completamente atordoada, ouve atentamente. Tiago conta quase que todos os pormenores. Como eles ficaram a olhar um para o outro, como se encostaram um ao outro no banco e o beijo que Pedro lhe deu. Rita dá o pulo.
- Foda-se! Vocês já se beijaram? Não achas isso um bocado cedo?
- Ele é que me beijou. - diz Tiago. - E foi por reacção ao momento. Estávamos a olhar muito um para o outro e ele beijou-me. Eu fiquei ali, parado sem saber o que fazer. Foi só isso. Ele depois pediu desculpa. Não conseguiu resistir.
- Hum... - e ela arrota e segura o estômago.
Tiago fica uns segundos a olhar para ela.
- Ouve lá, Rita. Tu estás mesmo bem?
Rita solta o sorriso mais sarcástico que consegue e solta-lhe um olhar maligno.
- Deixa-me pintar-te uma imagem. - franze as sobrancelhas. - Tenho a sensação que me enfiaram uma placa metálica na minha nuca e os meus olhos parecem que vão saltar das suas órbitas. A minha boca está tão seca que a minha língua parece mais uma lixa que outra coisa. Tenho a sensação que os meus dentes estão atados por um elástico que os vai apertando. Os barulhos mais baixos parecem tambores dentro da minha cabeça e a luz de uma vela parece um holofote. Tenho a sensação que as minhas mamas estão pelo umbigo e o meu estômago está a jogar a batalha naval. E, para completar o fantástico cenário, tenho a sensação qeu o meu cú é do tamanho de um elefante e que o vou arrastando pela casa fora. Fora isso, queriducho, estou óptima.
Tiago fica calado.
- Mas conta lá. - continua ela. - Vocês vão voltar a ver-se, presumo. Alguma coisa planeada?
- Vamos jantar e ao cinema amanhã.
Rita solta um sorriso tímido.
- O que sabes dele? Idade? Onde trabalha, se trabalha, se estuda, se tem cadastro criminal, um passado secreto, um namorado em Espanha, um contacto com traficantes de dro...
- Rita!
Ela ri-se.
- Relaxa boneco! Estou a reinar. Mas, que sabes dele?
- Ele tem 26 anos e acabou o curso de Comunicação. Agora é dono de um bar em... já não me lembro. É calmo, inteligente e muito simpático...
- Hum... Só love! - ela sorri. - Mas vai com calminha, rapaz. Ele é muito mais velho que tu, tem mais experiência. Se vocês decidirem ir com isso para a frente... Não quero que saias magoado.
E arrota. Segura o estômago.
- Foda-se! Merda para isto. Maldito período. Foda-se! Olha, Tiago. O Carlos fez o jantar. Está no forno. Vai lá comer. Eu vou me deitar antes que morra.
E levanta-se. Arrasta o seu corpo pelo quarto fora, parando à porta.
- Tiago. Fiquei feliz por ti, sério. Mas vai com calma.
Tiago sorri. Ela sai enquanto ele se estica sobre a cama e fica a olhar para o tecto branco. Amanhã terá um dia em cheio...
Publicada por Arms à(s) 11:06 da manhã 2 comentários
quinta-feira, agosto 24, 2006
Já no Algarve...
Rafael tinha chegado ao Algarve já fazia dois dias e ainda não tinha contactado nenhum dos seus amigos.
Calma e despreocupadamente, Rafael passeava-se pela rua principal do Alvor. De repente Rafael começa a reconhecer a silhueta de uma pessoa. Observa com mais atenção, na tentativa de reconhecer a dona daquela silhueta. Segundos depois percebe que se trata de Raquel. Assim sendo, aproximou-se...
- Olá! – disse ele com entusiasmo.
Raquel virou-se para ver que lhe tinha abordado
- Rafael? Por aqui? Já estava a estranhar não vires cá este ano! Como estás, rapaz?
- Contrariado, mas bem. E tu, boneca, como estás?
- Cá estou, como bem vês. Mas então, estás contrariado porquê?
- Porque queria estar com o meu namorado e os meus pais obrigaram-me a vir para aqui... Mas o pior é que o Nelson, o meu namorado, esté receoso que eu volte a envolver-me com o Bruno...
- Com o Bruno? Contaste-lhe? – perguntou ela espantada
- Sim, contei...
- Na íntegra ou parcialmente?
- Tudo mesmo... Bem, apetece-me um café. Acompanhas-me?
- Claro, com certeza, gajo! Aproveitas e contas-me a história do Bruno ao pormenor, porque nunca cheguei a perceber esta história toda... Pode ser?
- Pode sim. – Rafael olha em redor à procura de um café – Vamos àquele?
- ‘Bora!
Rafael e Raquel dirigiram-se ao café mais próximo. Pediram um café e foram-se sentar na esplanada.
- Então... conta-me lá o que se passou em concreto com o Bruno e agora com o... como se chama ele?
- Nelson. Bem, então foi assim... Apresentaram-me o Bruno há três anos atrás. Nos primeiros tempos, falávamos ocasionalmente e depois fomos falando todos os dias... Caí na asneira de me apaixonar por ele, mesmo sabendo que ele tinha namorado. Entretanto, após uns meses a guardar aquilo para mim, acabei por lhe contar. Dois ou três meses mais tarde, fui a Lisboa ter com ele. Fui passar uns dias a casa dele e do namorado. Nada de mais, até porque ia mesmo numa de amizadee não mais que isso. Acontece que o jovem foi-me seduzindo, provocando... Ao fim do terceiro dia não resisti e deitei-me com ele. Não era para ter acontecido, mas aconteceu. Ele mudava de postura assim que estávamos acompanhados, quer fosse pelo namorado ou pela Inês. Simplesmente era como se não fosse o Bruno que eu conhecia.
- E depois...? – Inquiriu Raquel.
- Depois... olha! Aconteceu mais duas vezes.
- O namorado soube?
- Soube. Abri o jogo com ele, já depois de terem terminado a relação. Mas ele já sabia e não me recriminou por isso... Menos mal. Ainda hoje falo muito com ele. É bom rapaz.
- E com o Bruno como foram as coisas?
- Com este.... bem... Não foram assim tão bem sucedidas. Quer dizer... desde à pouco tempo. Mas adiante. Por azar, naquele ano, ele tinha que se mudar justamente para aqui. Eu, parvo, sempre que podia escapava para aqui para estar com ele. Tudo em nome do amor. E sabia que, para ele, eu não passava de um divertimento. É isso que me magoa mais, sabes? É eu saber isso e mesmo assim continuar a vir ter com ele. Enfim... o amor!
- Mas, oh gajo, já deste o caso como encerrado, não deste?
- Já. Tinha de ser. Fartei-me de ser uma marioneta nas mãos dele. No final do Verão passado prometi a mim mesmo que não voltaria acontecer... Depois, em Outubro, conheci o Nelson, o meu actual namorado.
- Estou a ver... a história do Bruno é tramada. Mas vá! Fala-me lá do Nelson!
- A única coisa que te posso dizer é que me saiu a sorte grande, sabes? Parece que fomos mesmo feitos um para o outro.
- Ai... – Suspira Raquel – Só a mim é que não me aparece rapazes assim...
- Tem calma, vais ter o teu momento, não te preocupes.
- Espero que não demore muito a chegar. – continuou – Já agora... quem é a Inês de quem falaste?
- A Inês? É uma amiga do Bruno e do namorado. Aliás, ex-namorado. Uma rapariga muito meiguinha, sabes? Curioso... é que olhas para ela e pensas "esta rapariga deve ser muito meiga", e depois vês que é mesmo meiga.
- Hmmmmm – Retorquiu Raquel – estou a ver... O Nelson vem cá ter cont...
Os dois amigos são interrompidos pelo telemóvel dela. Após uns "Hum-Hum", "O.K." e "Está bem", Raquel anuncia que a conversa tem de ficar para outro dia, porque tinha de se ir embora. Rafael e Raquel despedem-se e cada um vai à sua vida.
Nobody's Bitcho
Publicada por Arms à(s) 1:56 da tarde 2 comentários
quarta-feira, agosto 23, 2006
Fins de Verão (parte 2)
Tiago fica ali, parado, a olhar para Pedro. O seu coração dispara como uma locomotiva e começa a tremer. Treme tanto que deixa escapar as folhas quando se levanta uma brisa fresca. Pedro atira-se a apanhar as folhas juntamente com Tiago. Este, acocorado, tenta apanhar o que puder, mas tudo se lhe escapa. Aos poucos, conforme vai recolhendo, Pedro aproxima-se de Tiago e segura-lhe o braço. Este gela de repente.
- Não precisas de ficar assim tão nervoso. – diz baixinho.
Tiago olha para Pedro. Ficam assim, de cócoras, a olhar um para o outro. Tiago repara então nos olhos verdes de Pedro, brilhantes como água. Mas, na realidade, nem são totalmente verdes. Na orla dos olhos dele surge um leve tom azulado, uma cor meio turquesa, como se tratasse da água do mar das praias tropicais. E, junto à menina dos olhos, Tiago consegue ver uns raios acastanhados, lembrando-lhe girassóis. Não são tons que saltam à primeira vista, é preciso um olhar atento. Perde-se nos seus olhos. Sente-se a submergir nos reflexos cristalinos do olhar dele, a perder a sua consciência e, de certa forma, a fundir com as águas límpidas do olhar de Pedro.
- Hum... To... Toma. – gagueja Pedro enquanto estende a mão que segura as folhas. Pedro perde-se também no olhar de Tiago, castanhos, claros como mel. Repara que Tiago também tem uns laivos de verde na orla dos seus olhos. Parecem dois caramelos redondos, semitransparentes, com laivos de verde, amarelo, cobre e o tom de ferrugem. Mas, quase sem brilho, tristes.
- O... Obrigado. – e recebe as folhas. Mas Pedro agarra-o na mão e dá-lhe um beijo. A única coisa que Tiago tem tempo de fazer é arregalar muito os olhos. É apanhado de surpresa.
- Desculpa! Não consegui resistir. – diz Pedro quando se apercebe do que acabou de fazer.
Levanta-se e ajuda Tiago a levantar. E sentam-se os dois no banco a conversar enquanto o sol vai caindo aos poucos e poucos e o céu explode-se de vermelho, amarelo, laranja e salmão. Seriam capazes de ficar ali horas, ou dias até. Passado uns momentos, Tiago chega-se ao pé de Pedro. E assim ficam, a conversar muito juntos, num final de tarde.
Tiago mete a chave na porta de casa mas ela abre-se entretanto. Carlos está de saída, com a sua cara habitual, muito sorridente.
- Tiago. Vê se não faças muito barulho! A Rita está mal disposta. – e dá-lhe umas palmadinhas no ombro.
Tiago entra em casa a cantar, baixinho. Entra no quarto e começa a arrumar umas coisas e a colocá-los no seu devido lugar. A Rita bate à porta.
- Entra Rita. – diz Tiago.
Depois vira-se todo contente para dar a novidade e apanha um susto. A Rita está mesmo ali, a uns escassos centímetros dele, com o olhar mais papudo e sonolento que ele alguma vez havia visto. Os seus olhos parece que encolheram para o tamanho de ervilhas. O cabelo da Rita está completamente despenteado, em nós que nunca mais acabam.
- Foda-se Rita! – diz quando se endireita. – O que é que tu tens? Apanhaste alguma constipação?
- Achas fofura? – diz ela, rodando muito lentamente até à cama de Tiago. Senta-se. – Estou com a merda do período. Mas, conta lá... Como foi a conversa com o Pedro?
- Como é que soubeste que estive a falar com ele? – diz, sentando ao lado dela.
- Passei hoje pelo parque e vi-vos de cócoras a apanhar as tuas folhas.
(Continua...)
Abraços
Arms
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terça-feira, agosto 22, 2006
Don't... [Parte 4]
- Estavamos em Julho, num sábado. Lembro-me perfeitamente... Entrei em pânico ao saber que o Rafael ia para o Algarve. Não dormi nada naquela noite, sabes? Dei umas voltas de carro, para desanuviar, mas não serviu de nada. Parecia perdido.... Quando me apercebi, estava estacionado na mesma falésia onde ele abriu o jogo comigo e disse que me amava pela primeira vez. Comecei a chorar como uma criança a quem foi retirado o seu brinquedo favorito. Fiquei lá até o sol nascer. Encontrei-me com ele em sua casa, e aquilo foi... sei lá!... esquesito! Mal conversámos, entendes? Depois andei feito louco a preparar a tralha toda para ir com ele para o Algarve. Quer dizer, era para ser surpresa: ele a sair do autocarro e dar de caras comigo... e olha, saíu-me o tiro pela colatra. O cansaço venceu-me e... puff!... o carro despistou-se. Agora estou eu aqui com um braço partido e alguns arranhões, sem poder conduzir, sem poder trabalhar, sem poder ir ter com ele e... e...
- E o quê, Nelson? – perguntou Ricardo com um tom sereno.
- E ele pode... – Nelson deixa correr uma lágrima – e ele pode ter voltado a cair na lábia do outro, do Bruno...
- Tem calma, rapaz. – Ricardo fez uma pausa – O Bruno é o tal rapaz que, ao saber que o Rafael gostava dele, usou-o durante muito tempo... certo?
- Sim, é...
- Eu não queria que ele fosse... Tenho medo, Ricardo.
Abraçaram-se.
Ricardo era o melhor amigo de Nelson. Conheciam-se há 5 anos e tornaram-se inseparáveis desde o momento em que se conheceram. Como Nelson costumava dizer, Ricardo era a sua alma gémea; não precisavam de falar para perceberem o que o outro estava a sentir, bastava um olhar. Nelson e Ricardo eram os irmãos que ambos nunca tiveram.
Nobody's Bitcho
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 12:33 da tarde 1 comentários
segunda-feira, agosto 21, 2006
Fins de Verão
Dias passam depois do único encontro com o Pedro. Se é que aquilo se poderia chamar de encontro. Aos poucos e poucos Tiago vai esquecendo e prosseguindo com a sua vida. Chega o dia das matrículas e o dia de conhecer a universidade. Tiago inscreve-se e parte rumo ao parque, que fica perto de sua casa. Com o bloco debaixo dos braços, Tiago vai descobrindo os caminhos e travessias da cidade. Descobre o parque e senta-se num banco perto de um lago. Saca do bloco e do lápis e vai desenhando, tentando se abstrair da realidade. Envolve-se aos poucos a desenhar as árvores, o lago e as pessoas que se deitam a apreciar o sol. Fica tão envolvido com o seu trabalho que não repara no vulto que se aproxima.
- Ah, muito bem! Temos artista. – diz o vulto com uma voz familiarmente rouca.
Tiago levanta a cabeça e olha para ele. Pedro. Este sorri-lhe.
- Afinal ainda estás vivo. Pareceu-me reconhecer-te. Posso sentar?
Tiago apenas sorri.
(continua...)
Arms
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domingo, agosto 20, 2006
Don't... [Parte 3]
Nelson e Rafael passaram o resto da manhã a preparar as malas dele. O ambiente entre os dois amantes estava carregado. Em ambos notava-se uma certa nostalgia e também mágoa pelo que o destino lhes reservava num futuro muito próximo: a separação. Mais tarde almoçaram, igualmente sem grandes conversas, e por fim cada um seguiu o seu rumo. Entretanto, Rafael enviou uma mensagem a Nelson.
Não te preocupes connosco. Não vai acontecer nada. Ele nem vai sonhar que estou lá. Amo-te muito.
Nelson foi para casa. Estava exausto e desesperado. Não queria separar-se do seu amor, mas tudo parecia estar contra ele. Mesmo que fosse com Rafael para o Algarve, sabia perfeitamente que o seu namorado seria altamente controlado pelos pais, e ainda havia a possibilidade de se encontrar com Bruno e não resistir... Ainda assim, Nelson sentia que tinha de arriscar.
Preparou as suas coisas à pressa, dirigiu-se à caixinha escondida no fundo do guarda-roupa e retirou todo o dinheiro que guardara para alguma emergência, saiu de casa e foi ao banco. Tranferiu parte do dinheiro que poupara para a faculdade da conta poupança para a conta corrente, onde também depositou o dinheiro que levava consigo. Atestou o depósito do carro e voltou a casa. Sentou-se em frente ao computador e foi pesquisar os horários dos autocarros. Por sorte, naquela noite só havia um autocarro, tornando-se mais fácil para Nelson seguir o rasto de Rafael. Estava prevista uma mudança de autocarro em Sete Rios (Lisboa), à 01h da madrugada.
Hugs & Kisses,
Nobody's Bitcho
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sábado, agosto 19, 2006
Arrepios
- Foda-se, tens bom gosto rapaz! – sorri.
Tiago cora, mas não resiste em olhar para o rapaz de vez em quando.
- Que borracho! – diz Rita. – Namoras?
- Não. – responde Tiago surpreendido pela naturalidade da rapariga em relação ao assunto.
- Imagino. Foda-se. Se é complicado para nós arranjarmos alguém, imagino vocês. – e debruça-se sobre a mesa como se fosse contar um segredo. – És mesmo gay ou és bi?
Tiago sorri.
- Mesmo gay.
Rita endireita-se.
- Ah, mas isso é fantástico. Foda-se. Imagina eu a andar pela casa e ver três gajos deliciosos a passearem-me pela sala. Sou uma sortuda do caralho!
E ri-se. Depois fica muito séria.
- Os teus pais sabem de ti?
- Não. – diz baixando a cabeça.
- E a tua irmã? Ela sabe?
- Sabe. – e dá mais uma trinca na sandes mista.
Rita sorri.
- Pelo que consegui perceber, ela está à vontade com isso. – pisca-lhe o olho.
Tiago solta um sorriso tímido. A verdade é que ele ainda está surpreendido pelo facto de Rita se sentir perfeitamente à vontade. Nunca lhe tinha acontecido algo semelhante.
- A minha irmã... – diz finalmente. – Ela adorou a ideia toda.
- ‘Tás a gozar!? – diz com os olhos completamente esbugalhados. – Foda-se. A sério?
- Sim. Disse-me que sempre quis ter um cunhado e que, assim, seria muito mais fácil.
Rita solta uma gargalhada sonante, o que desperta a curiosidade do rapaz. Ele olha no exacto momento em que Tiago lhe fixa o olhar. E é neste momento que Tiago se apercebe que o rapaz tem os olhos verdes rasgados, denunciando uma ascendência asiática. E ficam os dois, a olhar fixamente um para o outro, durante uns segundos. Por momentos o mundo funde-se numa mancha, numa amálgama de cores sem formas. E o rapaz sorri. Tiago fica perplexo e corta o olhar.
- Tiago. – diz Rita. – Vou à casinha das meninas e já volto. Mas vê lá. – diz, piscando o olho. – Não fujas com o gajo e me deixes aqui sozinha.
Tiago só consegue soltar um tímido sorriso de tão chocado que está com o que acaba de acontecer.
Rita levanta-se, deixando Tiago a terminar a sandes. Este, terminando o pequeno-almoço, acende um cigarro sem reparar que o rapaz se havia aproximado da mesa.
- Não devias de acender o cigarro assim de repente. – diz ele com uma voz levemente rouca.
Tiago congela.
- Posso te cravar um cigarro?
Tiago olha para ele mas não consegue responder. Agarra no maço e retira um dos quatro cigarros lá de dentro. Passa-o ao rapaz, que o agarra encostando o dedo indicador às costas da mão de Tiago. Este sente um arrepio na espinha. O rapaz sorri.
- Obrigado. E, já agora, podias-me dar lume? Não fumo há algum tempo e, como deves imaginar, não tenho isqueiro.
Tiago agarra no isqueiro e estende o braço em direcção ao rapaz. Este levanta o olhar em direcção aos olhos de Tiago e sorri.
- Quero que sejas tu a acender-me o cigarro.
Tiago nem acredita no que está a ouvir. Tudo isto parece surreal, um sonho. Acende o isqueiro e estica o braço para que o rapaz posso acender o cigarro. O rapaz agarra na mão de Tiago e olha-o de novo. Acende o cigarro. É nesta fracção de segundo que Tiago sente um formigueiro pelo corpo todo. Fica sem reacção nenhuma.
- Obrigado. Como é que te chamas? – pergunta o rapaz soltando-lhe a mão.
- T... Tiago! – responde, tentando evitar o olhar. Cora.
O rapaz sorri.
- Pedro. – pisca-lhe o olho. – Obrigado pelo cigarro, Tiago. És um amor! Vemo-nos por aí. – e parte.
Tiago fica estupefacto a olhar para a porta, sem reacção. Terá imaginado tudo? Rita volta e senta-se e chama-o, mas ele não responde. Então ela bate as mãos à frente dos olhos de Tiago, despertando-o.
- Ei... Hô! Tiago, acorda. Andas a dormir ou quê? – olha em volta. – Oh que pena! O borrachito foi-se embora. E nem metemos conversa. Foda-se.
Tiago sorri.
- Chama-se Pedro.
Publicada por Arms à(s) 11:37 da manhã 2 comentários
sexta-feira, agosto 18, 2006
Don't... [Parte 2]
- Tens mesmo de ir?
- Tenho. Os meus pais querem-me lá o mais depressa possível.
- Porquê? O que se passou?
- Não sei bem... acho que a vizinha de baixo contou-lhes coisas sobre mim... Pelo menos foi o que me pareceu.
- A tua vizinha? – perguntou Nelson espantado. – A que propósito?
- Antes de irem para o Algarve, os meus pais pediram encarecidamente que a senhora fizesse o favor de estar atenta a todos os meus movimentos e para lhes avisar, caso se passasse algo de suspeito...
- Suspeito?
- Sim... Pelo que me foi possível apurar, a senhora em questão contou que eu trazia gente para casa e também que havia noites em que nem sequer vinha dormir... Por isso querem que vá para o Alvor, ao encontro deles.
- Só isso?
- Já é suficiente, não concordas?
Fez-se silêncio. Nelson ficou a observá-lo durante breves instantes.
- Referia-me ao Bruno...
- Ao Bruno? – Inquiriu Rafael confuso. – Como assim?
- De certeza que é só iss? Os teus pais que te estão a chamar? Isto é, já me contaste o teu passado com ele. Ambos sabemos que esta história tem anos e que sempre que vais lá, nunca lhe resistes... O resto da história tu já a sabes.
- Sim, sei que te deixei ao corrente do assunto. Mas... Queres insinuar o quê concretamente?
- Nada. Só quero saber se te vais embora só porque os teus pais te estão a obrigar ou se também queres testar até que ponto é que me amas, para lhe resistires...
- Garanto que é por causa dos meus pais. Eles ameaçaram cortar com a mesada e se os factos fossem mais graves do que o que lhes contaram, eu teria de ir trabalhar para conseguir pagar o primeiro ano de faculdade. Por isso é que vou partir assim.
- Tens a certeza disso?
- Tenho toda a certeza do mundo.
Fez-se silêncio novamente. Ficaram a olhar-se por muito tempo até que Nelson quebrou o silêncio:
- Não quero que vás... – disse com tristeza.
- Nem eu quero ir... Mas tem de ser, paixão. Quero ficar aqui contigo. Aproveitar o resto das férias na tua companhia. Aliás... Estava a planear passar o fim de semana contigo no Gerês.
- Vais no teu carro?
- Não. Vou deixá-lo na garagem. Prefiro ir de autocarro. É menos dispendioso.
- E vais quando?
- Hoje à noite, no último autocarro para Lagos. Depois apanho um táxi até ao Alvor.
Hugs & Kisses,
Nobody's Bitcho
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 2:08 da tarde 2 comentários
quinta-feira, agosto 17, 2006
Bitch
Amanhece mais uma vez e os raios irrompem pelas frestas dos estores do novo quarto de Tiago, dando ao espaço um tom dourado-caramelo, acolhedor. Tiago dorme calmamente sobre o colchão, colocado ao centro do quarto, no meio das caixas e dos móveis. Tudo está calmo até...
Tiago acorda sobressaltado ao som da música Bitch, da cantora Meredith Brooks, que toca aos altos berros vindo da sala. Leva uns segundos para se localizar.
- Que...? - diz numa voz roucamente sonolenta. - Ah, pois! A Rita... - diz a seguir e aterra a cabeça na almofada.
Levanta-se cambaleando e veste uns jeans e uma t-shirt branca e sai do quarto aos esses, mas estagna-se na porta perante o espectáculo que se lhe apresenta. Na sala, Rita dança e canta enquanto limpa o pó da televisão.
- I'm a bitch, I'm a lover. I'm a child, I'm a mother. I'm a sinner, I'm a saint. - canta ela esganiçadamente enquanto abana a cabeça como um pombo a correr.
Tiago fica sem reacção, tentando controlar o riso. Fica ali a olhar para ela, de estatura média, mas de porte atlético. Cabelos compridos e castanhos, atados num rabo de cavalo. É quando ela baixa a cabeça e rodopia o rabo de cavalo que Tiago não aguenta mais e solta umas gargalhadas sonantes. Ela pára de cantar e vira a cabeça na direcção dele e fica assim, debruçada para a frente com o braço direito esticado, segurando o pano do pó amarelo. Endireita-se de repente.
- Foda-se! - diz ela de repente e corre até ao comando para desligar a aparelhagem. - Epá, merda! Desculpa. Pensei que estava sozinha em casa. - Ri-se. - Merda! Que vergonha! - e pousa o pano do pó no móvel da televisão.
Rita aproxima-se dele rapidamente, com os seus típicos passos rápidos e dá-lhe um abraço. Tiago fica sem reacção por ter sido apanhado de surpresa. Ela afasta-se um pouco.
- Tu deves ser o Tiago. Eu sou a Rita, a namorada do Carlos. Ele falou-me de ti ontem. Que te tinha recebido em casa, mas eu pensava que já tinhas saído.
Ela cala-se por uns segundos e sorri.
- Ele não me disse que és giro.
Pisca-lhe o olho. Tiago cora.
- Olha. - diz ela enquanto solta o cabelo. - Estou a pensar ir à pastelaria ali do fundo da rua tomar o pequeno-almoço. Queres vir? Sempre nos conhecemos melhor.
Pisca-lhe o olho.
- Que achas?
E, antes que ele consiga responder, diz.
- Vamos.
Publicada por Arms à(s) 11:43 da manhã 2 comentários
Don't... [Parte 1]
Ouviu-se um telemóvel a dar sinal de que recebera uma mensagem escrita. Nelson acordou com o barulho e olhou em direcção do relógio-despertador que pousava em cima da mesa-de-cabeceira. Marcava exactamente 04:03:29. Nelson esticou-se, tentando alcançar o telemóvel. Agarrou-o e abriu-o. Deparando-se com a luz emitida pelo visor, esfregou os olhos. Voltou a olhar para o visor, onde se podia ler a indicação sobre o emissor daquela mensagem: Rafael.
- A esta hora? Que quererá ele? – pensou Nelson, enquanto suspirava de impaciência por ter sido acordado.
Nelson abriu a mensagem.
Olá, lindinho! Amanhã vou para o Algarve. Não tenho outra opção. Quero ver-te antes de partir. Amo-te muito. Beijos. P.S. – Desculpa a hora... Amo-teNelson ficou surpreso e receoso com a notícia. Sabia o que aquilo significava. Tentou voltar a adormecer, mas não conseguiu. A mensagem fora perturbadora o suficiente para não voltar a dormir. Levantou-se e dirigiu-se à casa-de-banho para lavar a cara e os dentes. Voltou para o quarto, sentou-se em frente ao computador; verificou se tinha algum e-mail novo e se ainda havia alguém online no Messenger. Visto não estar ninguém online, Nelson decidiu ir dar uma volta de carro. Vestiu-se, saiu, entrou no carro e seguiu viagem.
Nelson olhou para o relógio. Eram 09h17. Ligou para Rafael.
- Bom dia, lindo. Tudo bem? – perguntou Rafael ao atender.
- Olá... Vai-se indo, e tu? Como estás?
- Com receio. Quero ver-te. Quando podes vir cá a casa?
- Quando quiseres...
- Pode ser agora?
- Sim, lindo... Pode.
- Óptimo. Então, até já. Amo-te.
- Amo-te. Até já.
Ao fim de dez minutos, a campainha soou. Rafael abre a porta.
- Olá. Entra.
Nelson entrou e fechou a porta. Cumprimentaram-se com um linguado demorado, já com o seu peso de saudade.
Nobody's Bitcho
[ Nota: Este texto é uma republicação do blog Nobody's Bitcho ]
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 2:59 da manhã 1 comentários
quarta-feira, agosto 16, 2006
Horizontes
Amanhece mais uma vez sobre a cidade e, mais uma vez, o céu enche com o cheiro de bolos acabados de fazer. O ar enche de um aroma adocicado e quente que abriria o apetite a qualquer um. Tiago acorda para a sua triste realidade. Realidade esse que ele planeia mudar com a sua entrada na faculdade.
Senta-se na cama enquanto ouve os pais a discutirem como sempre e a irmã a correr de um lado para o outro. Há alturas em que pensa que preferiria ter sido adoptado. Hoje não. Hoje as coisas estão diferentes. Hoje é o dia em que vai finalmente sair desta casa e viver sozinho. E sorri. Levanta-se e vê as horas no telemóvel. São dez da manhã. Não há mensagens. Nunca há. Tiago nem sabe porque insiste em ver se tem mensagens no telemóvel se nunca as tem. Lá volta e meia aparece uma ou outra, mas todas do seu operador a dar aquelas notícias chatas de promoções a aproveitar. Fora isso, só eventuais mensagens da sua melhor amiga, nada mais.
Levanta-se e vai tomar um duche e tenta esquecer as discussões aparvalhadas dos pais. Hoje será o último dia em que os terá de aturar semanas a fio. E sorri. O duche está óptimo e Tiago depressa relaxa. Já tem as malas feitas e os seus objectos pessoais arrumados, prontos para a viagem. Sai do banho e vai-se vestir. Não tarda nada é almoço...
Enquanto se veste a Marta entra no quarto e fecha a porta.
- Ouve mano, - diz enquanto se senta. - tens a certeza que não queres contar à mãe?
- Não há nada para contar. - Continua a vestir-se.
- Mas devias de contar-lhe. Ela tem o direito de saber que tu...
- Ela tem o direito de saber quando eu lhe decidir contar. E nem te atrevas a dizer nada.
- Pronto! Já não está quem falou... Mal humorado!
- Ouve Marta, não quero falar mais nisso. Estou muito ocupado hoje. E depois logo vejo isso...
- Tu é que sabes... - e levantando-se. - Ai... o meu maninho vai para a faculdade. 'Tás crescidito e bonitão. Ainda me arranjas lá um cunhado jeitoso... - e abraça Tiago.
- Marta...
- Ah! Ya! E que tenha um irmão bem bom... ou um primo. Ou um amigo assim todo...
- Marta! Podemos ir andando? Quanto mais depressa sair daqui, melhor.
- Vamos. Vamos beber um café que eu estou a precisar do cigarro.
Saem os dois do quarto. Os pais ainda discutem em frente à televisão. Tiago arruma as suas coisas no carro de Marta e, depois de tudo aconchegado, partem. Tiago sente um alívio e uma paz que nunca sentiu antes. Está finalmente livre para ser ele mesmo. Livre e com novos horizontes à espreita...
Publicada por Arms à(s) 12:07 da tarde 1 comentários
terça-feira, agosto 15, 2006
Apetece-te Voar?
Era noite e estavam numa falésia. A noite estava calma, a temperatura amena e o céu estava limpo. Só se viam as estrelas e a lua. A lua estava cheia, brilhava com toda a força que lhe era possível e reflectia no mar alto. Era uma noite perfeita.
Ambos se encontravam deitados no chão, lado a lado, absortos nos seus pensamentos e, ao mesmo tempo, a contemplar o céu estrelado.
- Queres voar?
- Quero...
- Então porque não voas?
- Porque não consigo. Não sem ti...
Rafael levantou a cabeça, pousando-a sobre o braço, e com ar confuso olhou para Nelson.
- Eu amo-te. Ainda não tinhas percebido? Amo-te desde o primeiro segundo em que te vi, quando chegaste atrasado à primeira aula de Biologia. Estavas ensopado da chuva supostamente tímida de Outubro. Trocámos uns olhares também tímidos e sentaste-te ao meu lado, ignorando o chamamento dos teus amigos. Amo-te desde aquele primeiro "olá" que troc...
- Cala-te.
Confuso com o pedido de Rafael, Nelson olhou-o. De repente começou a chover. Ambos fixaram-se no olhar do outro, enquanto os seus lábios se atraíam mutuamente, como se fossem ímans. Por fim, os seus lábios tocaram-se num longo e demorado beijo.
- Voa comigo - pediu Rafael
- Voo... para sempre. Amo-te.
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 11:56 da tarde 3 comentários
O Início
Olá a todos.
Antes de mais, bem vindos a este espaço. Aqui, encontrarão pedaços de tempo de vidas imaginadas.
Vai ser como brincar com os bonecos da Playmobil e inventar histórias em torno deles. Ligações no tempo e no espaço. Serão momentos com muita, alguma e até mesmo nenhuma intensidade emocional. Serão os episódios mais e menos importantes na vida dos personagens.
O objectivo aqui não é criar mais um blog ou escrever mais umas histórias, mas sim dar asas à imaginação.
Serão momentos relatados e assinados por duas pessoas... Nobody's Bitcho e Arms.
Hugs & Kisses,
Nobody's Bitcho
Publicada por Nobody's Bitcho à(s) 11:03 da manhã 3 comentários