terça-feira, outubro 03, 2006

Encontros imprevistos (parte 2)

Inês sorri muito.
- Já não há quem te põe os olhos em cima, rapaz. Já não te vejo desde as matrículas. Que tens feito? E, já agora, estás todo bonito e cheiroso porquê? Ai... Não me digas! Tens um encontro com uma rapariga toda jeitosa hoje?
Tiago cora muito de repente. Não sabe o que fazer, o que dizer. Se deve dizer algo ou se não deve contar nada. O Pedro deve estar quase a chegar e as coisas podem-se complicar. Mas, ao mesmo tempo, a Inês é a sua melhor amiga. Talvez ela aceite bem...
- Então!? Não falas? Que tens? – pergunta ela quando vê que ele fica muito branco de repente. - Estás todo gelado... Disse alguma coisa que não devia?
- Inês. – Tiago pega nos braços dela e faz com que ela se sente na cadeira à sua frente. – Eu... Bolas! Nem sei como te contar isto.
- Mas... Aconteceu alguma coisa? – Inês começa a ficar muito nervosa. E segura-lhe nas mãos. – Não queres ser visto com a rapariga, é isso?
- Não. Não é isso... É que... Tenho um encontro hoje, sim. Mas... – Tiago aperta muito as mãos de Inês. As suas mãos tremem tanto, deixando Inês ainda mais nervosa. – É que... não é uma rapariga!
Inês fica calada a olhar para Tiago. Ela larga-lhe as mãos e esfrega as suas mãos, doridas. Tiago baixa a cabeça, como se tivesse dito a coisa mais vergonhosa do mundo. O silêncio é quase ensurdecedor. Um silêncio quase físico, que quase dá para cortar com uma faca. Inês sorri de início. Mas depressa vai soltando uns pequenos risos aos soluços e, por fim, solta uma gargalhada sonante. Tiago levanta a cabeça, admirado pela reacção dela. Fica ainda mais nervoso. Por fim, Inês acalma-se e diz:
- Era isso que te estava a deixar todo nervoso comigo? – depois sorri com aquele sorriso maternal que só ela sabe fazer. Um sorriso que é capaz de derreter até os corações mais gélidos em fracções de segundos. – Tiago. Eu já suspeitava. Mas, como nunca falaste do assunto... Eu não queria forçar-te a contar-me. Estava à espera que me contasses.
Tiago fica muito aliviado de repente e solta um sorriso tímido.
- Tu és o meu melhor amigo e eu adoro-te. Adoro-te tal e qual como és e quero que te sintas sempre à vontade comigo. Além disso, eu já tive umas brincadeiras com uma amiga na minha adolescência. – Tiago não sabia de nada e fica surpreendido. - Isso é tudo muito natural para mim. E mais. O meu primo Pedro também é gay e dou-me bem com ele.
Tiago sorri muito.
- Nem imaginas como fico aliviado por saber isso. Pensava mesmo que ias deixar de falar comigo.
- Tu és um tontinho. – ela sorri mais uma vez. – E então? Como é que ele se chama?
- Chama-se Pedro. Deve estar quase a chegar.
- Que giro. Como o meu primo... – sorri e passa-lhe a mão pela cara de Tiago. – Estás apaixonado. Fico mesmo muito feliz por ti. Queres que te faça companhia até ele chegar?
- Adorava.
Tiago sorri. Inês levanta-se e vai ao balcão pedir um café. Sentam-se os dois, na conversa, à espera de Pedro.
Toca o telemóvel de Tiago. Uma mensagem.

(continua)
^^
Arms

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