terça-feira, outubro 17, 2006

No Hospital [Parte 3]

Alguns minutos após à saída de Nelson do quarto, ouve-se nos corredores um grito de desespero e angústia...
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!
Ana, Ricardo e Nelson foram interrompidos pelo grito. Os seus corpos congelaram, excepto a cabeça, que serviu para trocarem alguns olhares assustados.
- Pareceu-me ser do quart... – Ana nem teve tempo de terminar a frase.
Fora interrompida por Nelson, que saltou da cadeira e correu em direcção do quarto do seu amado. Ela e Ricardo tentaram acompanhar Nelson, mas sem sucesso.
Ao alcançar a porta do quarto, Nelson pára por um segundo e respira fundo. Por fim, entra no quarto, seguido dos seus amigos e de duas enfermeiras. Os cinco indivíduos encontraram o senhor Osvaldo a soluçar virado para a janela e com a cabeça encostada no vidro. Por sua vez, a dona Antónia estava debruçada sobre o corpo do filho, desfeita em lágrimas...
O que menos se previa acontecer naquela fase da recuperação acabara de acontecer: Rafael faleceu.


Hugz & Kisses,
Nobody's Bitcho

sábado, outubro 14, 2006

No Hospital [Parte 2]

- Que...?! – Perguntaram, em uníssono, Nelson, Ana e Ricardo.
Ao mesmo tempo que colocaram a questão, Ana - que se encontrava do lado esquerdo de Nelson – agarrou-lhe na mão, enquanto que Ricardo – situado à sua direita – colocou a mão no ombro do amigo.
- Que... – suspirou o médico. – Que poderã ser fatais. A equipa médica que o assistiu fez o melhor que pôde para evitar qualquer complicação ou infecção. Mas o futuro é incerto... Após o período das quarenta e oito horas mais críticas, eventualmente irão poder respirar de alívio. Nós faremos o nosso melhor.
Dito isto, Nelson agarrou-se aos amigos e chorou compulsivamente.

* * *

Durante a semana seguinte, Rafael dá sinais de recuperação, apesar de permanecer em estado de coma.
Ao fim do nono dia de internamento, Rafael finalmente acorda. Nelson e os pais de Rafael nem se aperceberam do facto.
- Nelson...? – Disse Rafael num tom esgotado ao mesmo tempo que se tentava libertar da máscara de oxigénio.
Nelson e os pais de Rafael olham-se com cara de espanto e de um certo alívio pelo sucedido. Nelson aproximou-se de imediato, enquanto a dona Antónia, a mãe de Rafael, tentava alcançar o filho, sendo impedida pelo marido.
- Espera. Tem calma. Deixa-os falar primeiro. – murmurou o senhor Osvaldo.
- Mas é o meu filho! – respondeu, resignada, a dona Antónia.
- Nelson... – repetiu Rafael.
- Sim, meu anjo. Sou eu.
- Perdoa-me...
- Não penses mais nisso. – Disse Nelson soltando uma lágrima. – Agora descansa. Põe-te bom depressa... Sim? – interrompeu com um suspiro. – Os teus pais estão aqui; a Ana e o Ricardo estão lá fora a torcer por ti. Estamos todos a contar contigo, amor.
- Amo-te...
- E eu a ti... desculpa ter sido parvo...
- Sim... – respondeu Rafael com algumas dificuldades respiratórias.
Nelson voltou a colocar a máscara de oxigénio na cara do namorado.
- Vá... não fales. Descansa. – Disse, despedindo-se com um beijo na testa. – Vou lá fora dar a novidades a eles, sim? Amo-te.
- Sei que sabem que não é melhor momento para pedir explicações... só peço para não o fazerem falar muito, qualquer que seja o assunto. Vou deixá-los a sós. Devem querer dizer-lhe alguma coisa. Se ele voltar a chamar por mim, estou lá fora.
- Claro. Com certeza. – acedeu de imediato o senhor Osvaldo. – Obrigado.
Ficaram a olhar-se durante alguns segundos, enquanto Nelson procurava pelas melhores palavras.
- De nada. – Acabou por responder.
E saíu.
[continua...]


Hugz & Kisses,
Nobody's Bitcho

sexta-feira, outubro 13, 2006

Encontros Imprevistos (parte 7)

Tiago decide pelo passeio. A noite está agradável e, para além disso, a vontade de ir para casa é nula. Decidem então passear pela marginal. A caminho da marginal eles passam por uma rua mais escura e deserta e reparam num casal de lésbicas de mãos dadas à sua frente. Sorriem os dois. Pedro estende então a sua mão.
- Queres seguir o exemplo delas?
Tiago hesita. Mas, passado uns segundos, dá a mão a Pedro e descem a rua de mãos dadas. Tiago solta um suspiro tremido, libertando todo o nervosismo que a proposta lhe incutiu.
- Não estavas à espera de poder me dar a mão na rua? – pergunta Pedro ao reparar.
- Nunca.
E nada mais dizem um ao outro. Descem a rua apenas, apreciando o silêncio e o luar. E, quando chegam ao fundo da rua e começam a voltar às ruas iluminadas, soltam as mãos. Com impulso, uma reacção quase natural. Como se estivessem a fazer algo de mal. Tiago entristece-se de repente.
- O que foi Tiago? – pergunta Pedro.
- Detesto este mundo! Detesto ter que esconder-me como se eu fosse um criminoso apenas porque amo de forma diferente. Detesto ter que andar por aí a mentir e inventar realidades apenas para não ser marginalizado. É injusto. Eu tenho tanto direito a ser feliz como outra pessoa qualquer.
Pedro baixa a cabeça.
- Sim. Percebo-te! Mas vamos esquecer o mundo hoje. Vamos esquecer que existem pessoas, cidades, continentes... Hoje sejamos apenas eu, tu, a Lua e o mar. Nada mais importa. O Sol depois irá devolver-nos à realidade que tanto adoramos!
Tiago ri.
- Que sarcasmo! Sim... Hoje não quero pensar em mais nada!
Desviam o seu passeio da marginal quando chegam ao parque. Embora não seja lá muito aconselhável entrar no parque à noite, há zonas iluminadas que são relativamente seguras. Entram na alameda do parque e sentam-se num banco a meio caminho.
- Daqui vêem-se bem as estrelas. – diz Tiago.
Pedro olha para cima.
- Verdade. Nunca tinha reparado! Até se vê a Via Láctea! – sorri.
- Que foi? – pergunta Tiago.
- Devem ter já passado uns... sei lá... oito ou nove anos que não me sento a ver estrelas. Já me tinha esquecido de como elas são simplesmente belas. Tão simples. Pequenos pontinhos no céu como berlindes num tapete azul-escuro. Como se Deus fosse uma criança e os tivesse esquecido. - Tiago ri despertando a atenção de Pedro. – Estás a gozar!?
- Não... Nada disso! Eu é que nunca tinha ouvido uma descrição dessas na vida. Achei piada.
Um silêncio. Pedro e Tiago olham um para o outro. Tiago sorri com um sorriso infantil e, ao mesmo tempo, extremamente sexy. Pedro mete-lhe a mão na bochecha e eles beijam-se. Tiago não sabe o que fazer de início. Apenas fecha os olhos e entrega-se.


^^
Arms

quarta-feira, outubro 11, 2006

Encontros Imprevistos (parte 6)

Pedro solta uma pequena gargalhada que faz com que Tiago se sinta incrivelmente inexperiente.
- Não me desiludiste em nada! Não estava à espera... Eu, com a tua idade já namorava e já não era virgem. Mas, isso não me incomoda em nada. – Pedro solta um sorriso matreiro. – Além disso, posso-te ensinar o que quiseres.
Tiago cora até às orelhas.
- É que... Não. Não quero que te sintas mal... Isto é, por eu não ter experiência.
Pedro sorri.
- E se nós levarmos isto a um passo de cada vez? O que achas?
Tiago sorri timidamente e solta um tremido sim. Terminam o jantar e saem do restaurante. Apesar da hora decidem ir ao cinema. Chegam lá mesmo em cima da hora e entram. Tiveram sorte de terem arranjado lugares a meio da sala, um ao lado do outro. O filme começa e a sala escurece. Por entre a penumbra e os risos das pessoas, Pedro encosta a perna à perna de Tiago algumas vezes. Embora estejam os dois envolvidos com o filme, estes pequenos gestos desperta-lhes a atenção. Tiago não consegue deixar de pensar que ele, no fundo, tem sorte por ser como é. Os heterossexuais não dão valor a estes gestos fortuitos e cheios de romantismo. Dão tanto valor a palavras, coisas efémeras e quase sem sentimentos, que se esquecem do poder e da excitação que é um simples toque. E sorri. Sorri simplesmente porque as palavras perdem todos os seus sentidos. No fundo, o que realmente conta são os pequenos gestos. Estes pequenos toques eternos, esquecidos no momento. E, envolvido em leves toques e o filme, Tiago encontra uma paz que pensava não existir.
O filme termina finalmente e Tiago não consegue parar de sorrir de felicidade.
- Por que é que estás a sorrir assim tanto? – Pergunta Pedro curioso.
- Por nada e por tudo.
Saem do edifício e caminham em direcção ao carro.
- Queres ir já para casa ou preferes um pequeno passeio? – Pergunta Pedro sorrindo para Tiago.

(Continua..)
^^
Arms

terça-feira, outubro 10, 2006

Encontros Imprevistos (parte 5)

O jantar corre sem problemas, apesar de Tiago ter deixado cair o garfo e ter derramado a água sobre a mesa. Entre conversas houve momentos em que as pernas de Pedro se se encostaram aos de Tiago, momentos estes que ele nunca pensava sentir. Os arrepios a subirem-lhe pelas pernas e pela sua nuca... Tiago só consegue sorrir. Um sorriso pateticamente sensual e tímido, se é que tal sorriso possa existir. Pedro, no entanto, não consegue deixar de pensar que, por mais que diga que isso não lhe incomoda, Tiago é sete anos mais novo. Uma diferença enorme apesar de Tiago ser já bastante maturo. As conversas param quando o empregado lhes tráz as subremesas. Resta-lhes falar de si mesmos.
- Tiago. Estive a pensar... Tu és assumido?
Tiago trava a colher cheia de semi-frio de café em frente à boca e olha para Pedro. Atrapalhado, Pedro acrescenta rapidamente.
- Desculpa se fui frontal demais. Se não quiseres responder...
- Não. Não é isso. – diz pousando a colher. – Apenas fiquei surpreendido por teres feito a pergunta assim, de repente. Não sou assumido... Isto é, só a minha irmã e alguns amigos é que sabem.
Pedro sorri.
- Já tiveste algum namorado antes? – pergunta Pedro.
Tiago não sabe o que responder. Cede por fim.
- Não. Nunca. Nem nunca beijei ninguém.
- Nem uma rapariga? - pergunta, surpreendido enquanto Tiago leva o último pedaço de pudim à boca.
- Não. Eu sempre soube quem sou e não me agrada a ideia de ter que fingir para manter uma imagem. - pousa a colher e continua, num tom mais baixo. - Nem iria gostar de namorar uma rapariga, sabendo que sou homossexual, apenas para a magoar depois.
Pedro fica calado a olhar para Tiago. Tiago baixa a cabeça timidamente.
- Desiludi-te...

(Continua...)
^^
Arms

domingo, outubro 08, 2006

No hospital. [Parte 1]

Após duas longas horas a observar e tratar dos ferimentos de Rafael, o médico-adjunto envia o seu assistente à sala de espera onde, impacientemente, aguardavam Nelson e o seu grande amigo Ricardo.
- Chamam-se os familiares do senhor Rafael de Jesus Almeida e Melo à recepção. – soou uma voz no altifalante.
Rafael e Ricardo levantaram-se num ápice, ao mesmo tempo que Ana, uma grande amiga de ambos, chegava ao serviço de urgências.
- Que aconteceu? – Questionou preocupada.
- Depois explico-te. Chamaram-nos agora. Vamos. – Respondeu Ricardo com alguma pressa.
- Os senhores é que são os familiares do jovem Rafael Melo? – Inquiriu o médico-assistente com uma certa arrogância e prepotência.
- Não. Eles são amigos e eu... – Nelson fez uma pausa para respirar e para pensar se havia ou não de dizer o que realmente era a Rafael. – Bem, eu sou o namorado. – Disse por fim. – O que se passa com o “Rafa?
Com alguma agressividade no seu tom de voz, o médico-assistente realçou o facto de ter chamado os familiares do acidentado e não os amigos.
- Não consegui entrar em contacto com eles! – gritou Nelson, com o desespero a pesar na voz. – Como é que ele está, doutor?
O médico suspira de impaciência:
- Bom... Como pode imaginar, o seu... – interrompeu a frase para decidir se havia de dizer “namorado” ou “amigo”. - ... o seu amigo não está nada bem. Perdeu bastante sangue e partiu algumas costelas, uma das quais perfurou-lhe o pulmão direito. Partiu também a bacia e o antebraço esquerdo.
Neste momento, só se via horror na cara de Nelson, Ricardo e Ana. Ainda assim, o médico-assistente continuou a relatar o estado de Rafael...
- Não sei se foram informados, mas quando o sinistrado chegou ao serviço de urgências, encontrava-se em coma. Ainda se encontra em coma, porém, estável. De qualquer das formas, será internado na Unidade de Cuidados Intensivos, visto que as próximas quarenta e oito horas são decisivas. – Entretanto, o médico consulta a ficha clínica de Rafael. – O Rafael será acompanhado por um dos melhores médicos deste hospital, contudo poderão surgir complicações que... – e interrompeu o seu discurso.

[ continua... ]



Hugz & Kisses,
Nobody's Bitcho

quarta-feira, outubro 04, 2006

Encontros imprevistos (parte 4)

Ecos. Pedro e Inês ficam a olhar um para o outro e Tiago para os dois. Diz ele de repente.
- Espera. Mas, vocês os dois já se conhecem?
Pedro agarra em Inês e mete-lhe o braço atrás das costas. Ficam lado a lado. Parecem quase ridículos um ao lado do outro: ele muito alto em relação a ela, que lhe dá pelo peito.
- Somos primos! – diz Pedro muito orgulhoso.
Tiago solta uma gargalhada. Pedro detém o sorriso e fica a olhar para Tiago com aquela cara típica de como se ele tivesse dito a maior barbaridade do mundo. Inês sorri muito e esclarece tudo.
- É que, estávamos a falar de ti agora mesmo. E o Tiago não sabia que és meu primo, e eu que tens um encontro com ele. – sorri. – Olha! Fica tudo em família!
Riem-se todos.
- O mundo é mesmo muito pequeno... – diz Inês por fim. – Mas, vão lá. Não quero que se atrasem por minha causa.
E vira-se para Pedro.
- E tu. Tu trata o Tiago com respeito, senão conversamos em casa.
Pedro sorri.
- Sim mamã! – Inês dá-lhe um estalo no peito. – Ei! Pronto! Eu porto-me bem.
Eles abraçam-se. Inês depois abraça Tiago e diz-lhe baixinho, no ouvido:
- Diverte-te. Tu mereces! Adoro-te, amigo!
Inês paga a sua conta e saem todos juntos. Trocam umas palavras e partem em diferentes direcções. Tiago fica muito nervoso de repente.


^^
Arms

terça-feira, outubro 03, 2006

Encontros imprevistos (parte 3)

"Tiago. Peço imensa desculpa. Estou atrasado. Vou tentar despachar-me. Dá-me mais meia hora. Desculpa mais uma vez."

- Bem. Parece que ele vai-se atrasar. – diz Tiago, já completamente descansado, enquanto guarda o telemóvel.
- Homens! São sempre a mesma coisa... Ainda falam das mulheres. – diz Inês e debruça-se sobre a mesa. – Então. E o que é que o teu menino faz? Que idade tem ele?
- Ele tem vinte e seis anos...
- Bolas. Mas ele é quase dez anos mais velho que tu! – diz endireitando-se. Calam-se os dois quando o empregado entrega o café de Inês. – Obrigada! (sorri ao empregado) E gostas dele?
- Sim... Quer dizer. Gosto dele, mas é muito cedo para saber seja o que for. Conheci-o há pouco tempo.
- Sim, claro! E o que é que ele faz?
- Ele é dono de um bar e tem o curso de Comunicação.
- Hum... Sim senhor. Um gerente! – ela sorri. – E... É um bar gay?
- Não. É um bar completamente banal, apesar de gay-friendly!
Inês bebe um golo do café.
- Muito bem. Estou a gostar de ouvir. Com que então hoje vocês vão ter o primeiro encontro oficial, não é?
- Sim.
A porta da pastelaria abre-se e Tiago começa a sorrir muito. Pedro acaba de chegar. Chega-se ao pé de Tiago e pede desculpas. De repente Inês levanta-se.
- Pedro!?
Pedro repara então em Inês. Sorri.
- Inês. Tu conheces o Tiago?

(continua)
^^
Arms

Encontros imprevistos (parte 2)

Inês sorri muito.
- Já não há quem te põe os olhos em cima, rapaz. Já não te vejo desde as matrículas. Que tens feito? E, já agora, estás todo bonito e cheiroso porquê? Ai... Não me digas! Tens um encontro com uma rapariga toda jeitosa hoje?
Tiago cora muito de repente. Não sabe o que fazer, o que dizer. Se deve dizer algo ou se não deve contar nada. O Pedro deve estar quase a chegar e as coisas podem-se complicar. Mas, ao mesmo tempo, a Inês é a sua melhor amiga. Talvez ela aceite bem...
- Então!? Não falas? Que tens? – pergunta ela quando vê que ele fica muito branco de repente. - Estás todo gelado... Disse alguma coisa que não devia?
- Inês. – Tiago pega nos braços dela e faz com que ela se sente na cadeira à sua frente. – Eu... Bolas! Nem sei como te contar isto.
- Mas... Aconteceu alguma coisa? – Inês começa a ficar muito nervosa. E segura-lhe nas mãos. – Não queres ser visto com a rapariga, é isso?
- Não. Não é isso... É que... Tenho um encontro hoje, sim. Mas... – Tiago aperta muito as mãos de Inês. As suas mãos tremem tanto, deixando Inês ainda mais nervosa. – É que... não é uma rapariga!
Inês fica calada a olhar para Tiago. Ela larga-lhe as mãos e esfrega as suas mãos, doridas. Tiago baixa a cabeça, como se tivesse dito a coisa mais vergonhosa do mundo. O silêncio é quase ensurdecedor. Um silêncio quase físico, que quase dá para cortar com uma faca. Inês sorri de início. Mas depressa vai soltando uns pequenos risos aos soluços e, por fim, solta uma gargalhada sonante. Tiago levanta a cabeça, admirado pela reacção dela. Fica ainda mais nervoso. Por fim, Inês acalma-se e diz:
- Era isso que te estava a deixar todo nervoso comigo? – depois sorri com aquele sorriso maternal que só ela sabe fazer. Um sorriso que é capaz de derreter até os corações mais gélidos em fracções de segundos. – Tiago. Eu já suspeitava. Mas, como nunca falaste do assunto... Eu não queria forçar-te a contar-me. Estava à espera que me contasses.
Tiago fica muito aliviado de repente e solta um sorriso tímido.
- Tu és o meu melhor amigo e eu adoro-te. Adoro-te tal e qual como és e quero que te sintas sempre à vontade comigo. Além disso, eu já tive umas brincadeiras com uma amiga na minha adolescência. – Tiago não sabia de nada e fica surpreendido. - Isso é tudo muito natural para mim. E mais. O meu primo Pedro também é gay e dou-me bem com ele.
Tiago sorri muito.
- Nem imaginas como fico aliviado por saber isso. Pensava mesmo que ias deixar de falar comigo.
- Tu és um tontinho. – ela sorri mais uma vez. – E então? Como é que ele se chama?
- Chama-se Pedro. Deve estar quase a chegar.
- Que giro. Como o meu primo... – sorri e passa-lhe a mão pela cara de Tiago. – Estás apaixonado. Fico mesmo muito feliz por ti. Queres que te faça companhia até ele chegar?
- Adorava.
Tiago sorri. Inês levanta-se e vai ao balcão pedir um café. Sentam-se os dois, na conversa, à espera de Pedro.
Toca o telemóvel de Tiago. Uma mensagem.

(continua)
^^
Arms

Encontros imprevistos

- Bem... Alguém vai ter uma noite excelente hoje! – brinca Carlos ao ver Tiago a preparar-se para sair. – Já sei que tens um jantar hoje.
Tiago cora enquanto veste o casaco.
- Vais ter com ele? Ou vamos ter a felicidade de o conhecer? – pergunta Carlos.
- Vou esperar por ele na pastelaria do Sr. Alberto. Vem-me buscar daqui a meia hora.
- Ah! Muito bem. Mas tem cuidado. Ele é mais velho e muito provavelmente mais experiente. Não quero que fiques magoado ou que ele te force a algo que não queiras. – abraça Tiago. – Mas, vai lá. A Rita está à minha espera. Hoje estou de serviço...
Riem-se os dois. Despedem-se e, minutos depois, Tiago entra na pastelaria do Sr. Alberto. Este cumprimenta-o, trocam umas palavras e Tiago pede um sumo de laranja.

(Quinze minutos depois...)

A ansiedade instala-se. Com isto começam os pequenos movimentos dessincronizados da perna direita de Tiago. Ajeita-se na cadeira vezes sem conta enquanto olha para fora da janela sempre que um carro azul marinho passa. Tiago começa a roer as unhas porque nada mais há a fazer senão aguardar impacientemente pela chegada dele. Ainda é cedo. Faltam ainda uns dez ou doze minutos. A casa está quase ao abandono. Estão apenas algumas pessoas sarapintadas pelas mesas. Falam muito, riem e há crianças a berrarem, mas Tiago nem lhes liga. Está tão absorvido pela expectativa da chegada de Pedro que nem repara que existe vida à sua volta... nem que um vulto estranhamente familiar se aproxima dele.
- Bem... Olá Tiago! Vejo que hoje vais ter uma noite fantástica.
Tiago vira-se. É uma rapariga. Não a reconhece de imediato... ainda está distante. Mas, quando acorda, sorri muito e levanta-se, quase que tropeçando na mesa.
- Inês! – dá-lhe um abraço.

(continua...)
^^
Arms
[Nota: Meus amigos. Peço imensa desculpa pelos meus atrasos. Estou no meio de mudanças de casa, pelo que a minha história está muito atrasada. Vou tentar manter a continuidade de forma regular, mas não faço promessas. Apenas prometo continuar a história. Obrigado pela vossa compreensão!]

Quinze dias depois... [Parte 3]

O Agente Idelfonso cumpriu com o que disse e levou Nelson para perto do carro. Entretanto, Nelson deixa soltar um “ajudem-no a salvar-se”, dito com muito desespero e sentimento de culpa.
Após alguns minutos, chega a ambulância. Atrás da ambulância vinha Ricardo. Ricardo, o melhor amigo de Nelson, fez uma travagem brusca uns metros à frente. Fez marcha atrás e foi ter com Nelson.
- Nelson?! – Gritou Ricardo, sendo barrado por dois agentes.
- Deixem-no passar, por favor. É meu amigo, está tudo bem. – pediu, espantado por ver o amigo ali.
- Que aconteceu? Estava a ir para Leiria, ia visitar a Ana... mas vi-te aqui e fiquei preocupado. Estás bem?
- O Rafael... – disse Nelson, explodindo em lágrimas.
- Tem calma, mano. Vai correr tudo bem. – retorquiu Ricardo, enquanto fazia um aceno com a cabeça ao agente Idelfonso, como que a perguntar o que se passa.
Idelfonso, uma vez mais explicou que Rafael havia-se despitado com o carro, que se encontrava inconsciente e gravemente ferido e que ainda assim os bombeiros estavam a fazer os possíveis para não amputarem nenhum membro.
Por fim, Rafael é solto do automóvel e enfiado na ambulância, que seguiu para o hospital de Coimbra.
Ricardo aborda Idelfonso.
- Será que um dos seus homens pode levar o carro do meu amigo para a esquadra, enquanto vou com ele para Coimbra? Amanhã passo por lá para o ir buscar.
- Sim, claro. Sem problema nenhum. A propósito, dê-lhe bastanta força. O caso do rapaz que ia a conduzir não é nada fácil... estive a falar com os paramédicos e eles não estão muitos esperançosos que se safe.
Ricardo engoliu em seco.
- Darei. Muito obrigado pela prestatibilidade.
- Ora essa! – Disse Idelfonso, à medida em que ia ficando corado. – só cumpri o meu dever.
Despediram-se.



Hugz & Kisses,
Nobody's Bitcho